Deficiência materna de ferro foi associada a parto prematuro e maior peso ao nascer apesar da suplementação pré-natal: estudo NuPED

Deficiência materna de ferro foi associada a parto prematuro e maior peso ao nascer apesar da suplementação pré-natal: estudo NuPED

Anemia por deficiência de ferro é resultado da prolongada depleção de ferro; que pode ser causada por ingestão dietética insuficiente, hemorragias ou má absorção do ferro. Na gravidez, a anemia pode ter efeitos negativos tanto para a saúde materna quanto infantil. As necessidades fisiológicas aumentadas de ferro devem ser consideradas para evitar complicações como redução do crescimento infantil e pior desenvolvimento neurológico no terceiro trimestre de gestação.

O projeto Nutrição durante a gravidez e desenvolvimento precoce (NuPED), representa um estudo prospectivo realizado em 250 gestantes da África do Sul. O objetivo do NuPED foi avaliar o status de ferro durante todo o período gestacional e comparar com variáveis bioquímicas, inflamatórias e sua relação com idade gestacional e peso ao nascer. Foram avaliados níveis de hemoglobina, biomarcadores do status de ferro e inflamação, peso ao nascer e a idade gestacional ao parto nos períodos de <18, 22 e 36 semanas. Adicionalmente, os dados da ingestão alimentar materna foram obtidos na primeira consulta (<18 semanas de gestação) por questionário de frequência alimentar quantificada (QFFQ).  Para auxiliar na quantificação do tamanho da porção, foram utilizados equipamentos de medição padrão, modelos de alimentos.

No momento da seleção de participantes, a prevalência de anemia, depleção de ferro e eritropoiese por deficiência de ferro foi de 29%, 15% e 15%, respectivamente; e aumentou significativamente com a progressão da gravidez. Anemia e depleção de ferro na 22ª semana, bem como eritropoiese por deficiência de ferro na 36ª semana foram associados a maior peso ao nascer (β = 135,4; IC 95%; e β = 205,4; IC 95%: 45,6, 365,1 e β = 178,0; 95% CI: 47,3, 308,7, respectivamente). Mulheres no quartil mais baixo de ferritina, na 22ª semana deram à luz bebês com peso de 312g (IC 95%: 94,8, 528,8) a mais do que as do quartil mais alto de ferritina. Por outro lado, o eritropoiese por deficiência de ferro na 22ª semana foi associado a um maior risco de parto prematuro (OR: 3,57, IC 95%: 1,24- 10,34). Gestantes com quartis mais baixos de hemoglobina no período menor que 18 semanas tiveram uma gestação mais curta em 7 dias (β = – 6,9, IC 95%: -13,3, -0,6) em comparação com os do quartil mais alto.

Apesar de algumas limitações metodológicas do estudo, os resultados são importantes, gerando algumas hipóteses para investigações futuras. Os autores concluíram que a deficiência de ferro, anemia e eritropoiese por deficiência de ferro aumentaram com a progressão da gravidez, apesar da suplementação pré-natal rotineira. Além disso, houve uma associação inversa entre status materno do ferro e peso ao nascer, enquanto eritropoiese por deficiência de ferro no meio da gravidez aumentou o risco de parto prematuro. Tais resultados são preocupantes frente às possíveis complicações, inclusive em mulheres suplementadas. Sendo assim, ainda é um desafio a identificação da deficiência e suplementação segura considerando ambientes de saúde pública.

Referência:Symington EA, Baumgartner J, Malan L, et al. Maternal iron-deficiency is associated with premature birth and higher birth weight despite routine antenatal iron supplementation in an urban South African setting: The NuPED prospective study. PLoS One. 2019 Sep 3;14(9):e0221299.

Pós-graduação de Nutrição Clínica

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