A fórmula enteral polimérica, composta por proteínas e lipídeos na sua forma íntegra, é a escolha preferencial na terapia nutricional enteral de pacientes críticos. Algumas fórmulas poliméricas disponíveis comercialmente são ricas em caseína, uma proteína que possui propriedades coagulantes. Em descompasso, a coagulação pode impedir o esvaziamento gástrico adequado e resultar em volume gástrico mais elevado, levando a maior intolerância da terapia nutricional enteral (TNE). Neste sentido, um recente estudo randomizado e controlado, comparou o efeito de uma fórmula enteral polimérica composta por 4 proteínas (P4) com propriedades não coagulantes versus uma fórmula polimérica rica em caseína (Cas).
Por questão de segurança, o estudo não foi realizado em doentes graves. Para simular as condições gastrintestinais de doentes críticos, pioneiramente, 20 voluntários saudáveis (14 mulheres e 6 homens, IMC entre 20 e 25Kg/m²) foram submetidos a um protocolo clínico específico com administração de medicamentos codeína e esomeprazol, objetivando a diminuição da motilidade gástrica e retardo no esvaziamento gástrico.
As fórmulas enterais estudadas foram: P4 – Nutrison Energy (Nutricia), que contém 150 kcal e 6g de proteína/100 mL versus Cas – Osmolite (Abbott), que contém 150 kcal e 6,3g de proteína/100 mL. Os voluntários foram aleatoriamente sorteados para receberem uma das fórmulas enterais, administrada via sonda nasogástrica, na dose de 100ml/h, por 4 horas contínuas, com uso de bomba de infusão. Análise das variáveis do estudo foi realizada por dosagem do volume do conteúdo gástrico via ressonância magnética (RM) do abdomen e exames de sangue para avaliar a concentração plasmática de aminoácidos. RM foi realizada em períodos distintos: jejum e em 10 min antes da infusão enteral, e após o início da infusão das dietas enterais: em 60, 120, 180, 240, 270, 300, 330 e 360 minutos. Amostras de sangue foram coletadas 10 minutos antes de cada RM.
Resultados mostraram que não houve diferença significativa na concentração plasmática de aminoácidos entre os grupos. Na análise de RM, durante a infusão da dieta, o grupo que recebeu a fórmula P4 mostrou menor volume do conteúdo gástrico no tempo T=180 min, após a interrupção da nutrição em T= 300 min e T = 330 min, comparado ao grupo Cas (p = < 0,05). Esses resultados sugerem um esvaziamento gástrico mais rápido e menor volume do conteúdo gástrico com administração da fórmula enteral P4 em relação ao Cas, possivelmente devido às propriedades não coagulantes da mistura de proteínas.
Os autores concluíram que o impacto das proteínas na coagulação ainda deve ser mais investigado em estudos com maior número de participantes, e em outras situações clínicas.
Referência
Nick Goelen, Pieter Janssen, Dina Ripken, et al. Effect of protein composition of enteral formula on gastric content volume during continuous feeding: A randomized controlled crossover study in healthy adults. Clinical Nutrition, 2021; 40: 2663e2672.