Doença Celíaca (DC) é uma enteropatia autoimune que afeta aproximadamente 1% da população ocidental. Sua etiologia é atribuível a fatores genéticos e ambientais, com pico de desenvolvimento durante a primeira infância. Há relatos que a introdução precoce ou tardia de glúten em lactentes pode estar associada com o risco da doença, entretanto, ainda não está claro se a quantidade de glúten consumida na primeira infância pode de fato desencadear a doença celíaca. Em 2019, pesquisadores do projeto TEDDY Study publicaram uma pesquisa de coorte prospectiva observacional multicêntrica, que investigou se a quantidade de glúten na dieta de crianças estava associada ao desenvolvimento da DC autoimune e aumento da incidência da doença. Foram selecionados 8676 recém-nascidos com genótipo HLA, o qual é associado à predisposição da DC. O objetivo era registrar o consumo de glúten a partir de registros alimentares de 3 dias; coletados dos 6 meses até os 5 anos de idade. Do total, 2071 crianças foram excluídas por não cumprirem o protocolo (falta de coleta de sangue, ausência de recordatório alimentar, alteração no cadastro). Das 6605 crianças incluídas no estudo, 1216 crianças (18%) apresentaram uma autoimunidade da doença celíaca e 447 crianças (7%) desenvolveram a doença. A incidência para ambos os resultados atingiu o pico entre a faixa etária de 2 a 3 anos. Na análise de risco para autoimunidade da doença celíaca, a ingestão de glúten, ajustada por idade e energia, foi associada com maior risco de autoimunidade da doença para cada aumento de 1 g/d no consumo de glúten (HR, 1,40 [IC 95%, 1,30-1,52], P <0,001; risco absoluto aos 3 anos de idade se a quantidade de referência de glúten for consumida, 18,7%; risco absoluto se a quantidade de glúten consumida for >1 g/d ao valor de referência, 24,6%, diferença de risco absoluta, 5,9% IC 95%, 4,4% -7,4%]). Na análise de risco para DC, a ingestão de glúten, ajustada por idade e energia, foi associada com maior risco da doença para cada aumento de 1 g/d no consumo de glúten (HR, 1,43 [IC 95%, 1,23-1,68], P <.001; risco absoluto aos 3 anos de idade se a quantidade de referência de glúten fosse consumida, 7,8%; risco absoluto se a quantidade de glúten consumida fosse > 1 g/d ao valor de referência, 10,7%; diferença de risco absoluta, 2,9% [IC 95%, 1,9% -3,8%]).
Os pesquisadores concluíram que a maior ingestão de glúten, durante os primeiros 5 anos de vida, foi associada com aumento estatisticamente significativo dos riscos de autoimunidade celíaca e de DC em crianças geneticamente predispostas a doença. A incidência de ambos os resultados atingiu o pico aos 2 a 3 anos de idade.