A cirurgia bariátrica (CB) é a estratégia mais eficaz para pacientes com obesidade grave e tem diminuído a morbidade e mortalidade destes pacientes. No entanto, o risco da realização da cirurgia com o excesso de gordura visceral é um dos desafios, justificando a indicação de perda de peso antes da cirurgia.
Apesar de amplamente aconselhado, não existem estudos randomizados e bem controlados para defender esta indicação. Em 2016, a Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica e Metabólica declarou que “a perda de peso pré-operatória exigida pelo seguro não é apoiada por evidências médicas e não tem se mostrado eficaz antes da CB ou fornece qualquer benefício para resultados bariátricos”.
Recentemente foi publicada uma revisão da literatura realizada por um grupo italiano para investigar os prós e contras de uma abordagem com dieta cetogênica para perda de peso pré-bariátrica.
Para a perda de peso antes da cirurgia a estratégia mais utilizada são as dietas com baixo valor calórico (VLCD – Very-low-calorie-diet), podendo ter uma abordagem de dieta mediterrânea ou dieta cetogênica.
O termo dieta cetogênica é muito abrangente e inclui uma série de dietas com baixo contéudo de carboidratos. A característica comum dessas dietas é que a maior parte da ingestão calórica é derivada de proteínas e gorduras, induzindo um estado semelhante ao jejum com o desenvolvimento de cetose fisiológica. Por exemplo, uma dieta cetogênica VLCD é caracterizada por uma redução muito importante no consumo de carboidratos (menos de 50 g por dia, fornecendo aproximadamente 13% da ingestão calórica), com introdução adequada de proteínas (cerca de 0,8–1,2 g para cada kg de peso corporal ideal, fornecendo aproximadamente 45% da ingestão calórica) e um consumo relativamente aumentado de gorduras (aproximadamente 42% da ingestão calórica), com uma ingestão energética média de 800 kcal/dia.
A dieta cetogênica para finalidade de perda de peso tem ganhado atenção do meio cientifico e uma meta-análise recente demonstrou que a VLCD está associada a uma redução média do IMC (índice de massa corporal) de 3,25 kg/m2 (IC 95%: 2,63 a 3,86) já no primeiro mes de seguimento e até 7,11 kg/m2 (IC 95%: 5,38 a 8.84) após seguimento de 12 meses. O mecanismo que favorece estes resultados ainda estão em estudos, mas parece que existe uma relação com a mudança na microbiota, que favorece o crescimento de bacteriodetes sobre os firmicutes.
Um dos efeitos indesejáveis desta abordagem dietética no pré-operatório seria a formação de espécies reativas de oxigênio, aumentando o estresse oxidativo. Outro efeito negativo desta dieta seria exacerbar deficiências de micronutrientes já previamente existentes.
Em geral os efeitos referidos nesta revisão narrativa da dieta cetogênica de muito baixa caloria no momento pré-bariátrica podem ser observados na figura 1.
Figura 1: Efeitos esperados em uma dieta VLCD pré-cirurgia bariátrica.
O artigo conclui que uma dieta cetogênica de muito baixa caloria associada à suplementação de micronutrientes pode ser uma ferramenta válida para induzir a perda de peso antes da cirurgia bariátrica, levando à redução dos riscos cirúrgicos, embora mais estudos randomizados e controlados devam ser realizados a este respeito.
Por: Lenycia Neri
Referencia:
Colangeli, L.; Gentileschi, P.; Sbraccia, P.; Guglielmi, V. Ketogenic Diet for Preoperative Weight Reduction in Bariatric Surgery: A Narrative Review. Nutrients 2022, 14, 3610