A hipertensão arterial é considerada indicador de saúde metabólica e cardiovascular e, embora seja mais comum na vida adulta, pode ter origem na infância. Crianças com níveis elevados de pressão arterial podem se tornar adultos hipertensos e torna-se importante explorar esta condição para prevenir desfechos negativos.
Um estudo recente avaliou possíveis associações entre a pressão arterial e medidas antropométricas, composição corporal, atividade física moderada-vigorosa e aptidão cardiorrespiratória em crianças. Um total de 215 estudantes de 6 a 12 anos de idade foram selecionados em uma escola pública estadual de Porto Alegre. Variáveis antropométricas como estatura, massa corporal e perímetro da cintura (ponto médio entre a borda inferior da última costela e a crista ilíaca) foram coletadas, o índice de massa corpórea (IMC) e de maturação somática foram calculados, e a aferição da pressão arterial foi feita durante o período de aulas da escola.
O percentual de gordura foi mensurado por absorciometria de duplo feixe de raios X (DXA), e os valores percentuais foram calculados automaticamente pelo software do equipamento. A atividade física foi avaliada por meio de um acelerômetro posicionado na cintura dos escolares, e os dados das 10h de uso durante 5 dias foram utilizados. A aptidão respiratória foi determinada por teste de corrida/caminhada de seis minutos, conforme as recomendações do Manual de Medidas e Testes do Proesp-Br.
A amostra foi composta de 53,5% de meninos e 46,5% de meninas. O desempenho no teste de corrida/caminhada foi baixo em todas as crianças, e o percentual de gordura, atividade física moderada-vigorosa e aptidão cardiorrespiratória apresentaram diferenças significativas entre os sexos. Meninas apresentaram menor atividade física moderada-vigorosa e aptidão cardiorrespiratória. Os resultados mostraram que, considerando o sexo, a idade e a maturação somática constante, a razão cintura/estatura, índice de massa corporal e percentual de gordura indicam uma associação positiva com a pressão arterial. E, em contrapartida, a atividade física moderada-vigorosa e a aptidão cardiorrespiratória indicaram uma relação negativa. Estes resultados indicam que a atividade física moderada-vigorosa, aptidão cardiorrespiratória, variáveis antropométricas, idade, sexo e maturação somática são importantes preditores da variabilidade da pressão arterial de crianças.
Os autores concluíram que o percentual de gordura, índice de massa corporal, razão cintura/estatura, atividade física moderada-vigorosa e a aptidão cardiorrespiratória (que são variáveis relacionadas ao exercício), influenciaram a pressão arterial de crianças. Assim, o manejo do peso corporal e a prática de atividade física regular (moderada-vigorosa) aplicadas para desenvolver aptidão cardiorrespiratória, podem ser consideradas estratégias importantes para a prevenção de hipertensão arterial em crianças.
Referência: Pinheiro, Gisele et al. Pressão Arterial de Crianças: Associação a Indicadores Antropométricos, Composição Corporal, Aptidão Cardiorrespiratória e Atividade Física. Arquivos Brasileiros de Cardiologia [online]. 2021, v. 116, n. 5.