Crianças com síndrome do intestino curto (SIC) são frequentemente acometidas pelas condições de má absorção de nutrientes e atraso no crescimento. Sabe-se que a microbiota intestinal desempenha um papel importante na função intestinal, e as crianças com SIC têm deficiências conhecidas de cepas microbianas benéficas. Uma estratégia para modular e melhorar a composição da microbiota intestinal é através do uso de probióticos, contudo, sua eficácia em crianças com SIC não está bem estabelecida.
Em recente estudo clínico randomizado placebo controlado, o efeito da suplementação de probióticos foi investigado na modulação do perfil microbiano intestinal e no crescimento infantil. Foram estudadas crianças com SIC após desmame da nutrição parenteral, e que apresentaram curvas de crescimento abaixo do ideal.
Os participantes foram randomizados para receber probióticos ou placebo. Os pacientes no grupo probiótico receberam L rhamnosus (Culturelle, 5 bilhões de unidades formadoras de colônia – UFC) e L johnsonii (BioAmicus Johnsonii, 200 milhões de UFC) dispersos em óleo de triglicerídeo de cadeia média (TCM), diariamente, por 2 meses; enquanto crianças do grupo placebo receberam cápsulas contendo 1 mL de TCM, diariamente, durante o mesmo período. A suplementação foi realizada via oral ou por gastrostomia. Amostras fecais foram coletadas mensalmente para estudar o perfil da microbiota intestinal pela técnica de sequenciamento de ácido ribonucléico ribossomal 16S e pela reação em cadeia de polimerase – PCR. A evolução do crescimento infantil de peso e estatura foram avaliados pela medida de escore Z. A análise estatística foi realizada através dos testes de Mann-Whitney, Kruskal-Wallis e qui-quadrado.
O total de 18 crianças com SIC completaram o estudo (n = 9 por grupo). Não houve mudanças significativas nas principais famílias bacterianas em nenhum dos grupos. A abundância relativa de Lactobacillus não diferiu entre os grupos comparando os valores de início e final do estudo (respectivamente, 7,67 versus 13,23, p = 0,523 e 1,93 versus 15,8, p = 0,161). Os escores z para peso e comprimento não diferiram entre os grupos no início ou no final do estudo. Dessa forma, os autores concluíram que a suplementação diária de probióticos Lactobacillus, por 2 meses, não alterou a composição da microbiota fecal ou o crescimento de crianças com SIC. Ensaios clínicos com maior número amostral e tempo prolongado de suplementação de probióticos se faz necessária para confirmar os achados desse estudo.
Por Priscila Garla
Referência: Piper HG, Coughlin LA, Hussain S, Nguyen V, Channabasappa N, Koh AY. The Impact of Lactobacillus Probiotics on the Gut Microbiota in Children With Short Bowel Syndrome. J Surg Res. 2020; 251:112-118.