A terapia nutricional artificial para pacientes em cuidados paliativos em domicílio pode envolver problemas nutricionais e éticos, que impactam condições clínicas e a qualidade de vida do paciente. A desnutrição atinge cerca de 80% dos pacientes oncológicos e a utilização adequada da terapia nutricional pode levar a melhoras significativas, mas é preciso garantir que os benefícios sejam maiores que os danos.
Para avaliar a eficácia e custo-benefício de nutrição enteral e parenteral domiciliar em pacientes com câncer em cuidados paliativos, o grupo italiano National Tumor Assistance Foundation conduziu uma análise retrospectiva observacional. Para o estudo foram considerados registros dos últimos 30 anos de atendimento, e detalhes como mudanças na escolha da via de acesso na nutrição artificial domiciliar foram consideradas.
Para avaliação de desnutrição proteico-calórica, dados de índice de massa corporal, percentual de perda de peso e avaliação do estado nutricional foram analisados. O consumo alimentar foi acessado por avaliação da composição e frequência das refeições. Foram pontuadas circunstâncias nas quais o balanço energético esteve reduzido por mais de 7 dias ou a ingestão de energia foi inferior a 50% das necessidades basais por 7-14 dias, combinada a perda de peso. A expectativa de vida, parâmetros clínicos e laboratoriais, prognóstico da doença, presença e localização de metástases também foram documentadas.
Os dados analisados consideravam os protocolos da Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN). Portanto, a nutrição artificial domiciliar foi indicada quando a expectativa de vida foi maior que 6 semanas, e condições físicas, psicológicas e ambientais eram adequadas. Pacientes e cuidadores estudados haviam recebido treinamento por enfermeira e monitorados uma ou duas vezes por semana por nutricionista.
Os dados de 1.014 pacientes foram avaliados: 592 homens e 422 mulheres, com idade média de 65,6 anos (DP +- 12,7 anos). A terapia nutricional parenteral foi iniciada em 666 pacientes (66%) e a nutrição enteral em 348 pacientes (34%). A ingestão calórica oral foi <50% das necessidades basais em todos os pacientes. Um total de 721 (71,1%) não conseguiu consumir nenhuma quantidade de nutrientes via oral (270 utilizou nutrição enteral e 451 utilizou nutrição parenteral), e 293 pacientes (28,9%) utilizou a nutrição artificial de maneira complementar a ingestão oral. Ao longo do tempo, a utilização de acesso venoso central para nutrição parenteral aumentou, especialmente cateteres centrais de inserção periférica. Em 215 pacientes que iniciaram nutrição parenteral suplementar, a ingestão proteico-calórica total permitiu aumento significativo na massa corporal e status de desempenho físico avaliado.
Os autores concluíram que no período de 30 anos de acompanhamento de um serviço especializado, a escolha de cateteres venosos centrais como via de acesso da nutrição parenteral aumentou progressiva e significativamente. Em pacientes que mantiveram a ingestão de alimentos via oral, a nutrição parenteral suplementar foi superior aos demais tipos de terapia nutricional artificial para promoção de melhora no peso, desempenho e sobrevida.
Referência:
Ruggeri E, Giannantonio M, Ostan R, et al. Choice of access route for artificial nutrition in cancer patients: 30 y of activity in a home palliative care setting. Nutrition. 2021;90:111264.