Alguns pacientes com síndrome do intestino curto (SIC) desenvolvem comportamento hiperfágico. Tal aumento da ingestão de alimentos estimula a adaptação intestinal e reduz a dependência de nutrição parenteral. Com isso, um estudo recente conduzido por Bétry e colaboradores teve como objetivo determinar os fatores que modulam o consumo de alimentos em pacientes com síndrome do intestino curto. Para isso, foram coletados dados de um centro referência em nutrição parenteral em Lyon- França, como avaliação da composição corporal por DEXA, antropometria e força palmar, informações dietéticas pelo recordatório de 3 dias e nutricionais (tipo de terapia nutricional), calorimetria indireta, análise sérica (albuminemia, proteina C reativa – PCR, função tireoidiana, aminoácidos plasmáticos, absorção intestinal de glicose) e fezes (determinação do peso das fezes durante 3 dias).
Foram incluídos no estudo 38 pacientes com idade média de 63 anos e a maioria do sexo masculino (63%). Os motivos da ressecção intestinal foram isquemia mesentérica (63%), obstrução do intestino delgado (13%), tumor intestinal (8%), enterite por radiação (8%) ou outras causas (8%), com média de intestino remanescente de 70 cm. Os pacientes foram divididos em grupo hiperfágico (GH: ingestão oral > 40kcal/kg/dia ou ingestão > 1,5 vezes o gasto energético em repouso) e grupo não hiperfágico (GNH: ingestão oral < 40kcal/kg/dia ou ingestão < 1,5 vezes o gasto energético em repouso). Fizeram parte do GH 69% dos pacientes. A ingestão energética oral variou de 577 a 4054 kcal/dia e se correlacionou com peso (p=0,009), massa livre de gordura (p=0,003) porém não com massa gorda (p=0,90). A ingestão energética oral se correlacionou positivamente com a força palmar, gasto energético em repouso (p=0,03), massa livre de gordura (p<0,05) e hormônio estimulante da tireoide -TSH (p<0,01), os dois últimos independentemente de outros parâmetros, e negativamente com hormônio tri-iodotironina –T3 (p=0,04) e PCR, porém não se correlacionou com idade, tamanho do intestino remanescente, tempo de síndrome do intestino curto, nutrição parenteral e função intestinal.
Dessa maneira, os autores concluíram que a massa livre de gordura é um forte preditor de ingestão calórica oral em pacientes com SIC em nutrição parenteral sem sintomas gastrointestinais debilitantes. O aumento da massa magra pode ser uma maneira de estimular ingestão calórica via oral nestes pacientes para redução de dependência da nutrição parenteral. Mais estudos são necessários para comprovar essa hipótese.