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A menopausa é uma fase inevitável da vida feminina. Apesar de ser abordada como um só conceito, a menopausa é dividida em:
(1) Perimenopausa (transição menopáusica): intervalo de tempo de diminuição da função ovariana, resultando em ciclos menstruais irregulares;
(2) Menopausa: cessação permanente da menstruação, diagnosticada após 12 meses de amenorreia; e
(3) Pós-menopausa: se inicia 12 meses após a última menstruação.
Embora com o avanço da idade as necessidades energéticas diminuam, as demandas por micronutrientes permanecem as mesmas. Por isso, mulheres na menopausa precisam de uma alimentação com maior densidade nutricional, a fim de alcançar níveis adequados de vitaminas e minerais.
Uma recente revisão sistemática com 90 estudos buscou identificar as principais deficiências nutricionais na pós-menopausa, sua relação com o risco de morbidades e doenças crônicas, e a importâcia de manutenção de níveis adequados. Confira os principais achados a seguir.
Nutrientes de atenção para mulheres na pós-menopausa
Vitaminas do complexo B
Vitaminas do complexo B são cruciais na produção de energia, no humor e na estabilidade mental, em doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, bem como em doenças neurodegenerativas.
Nas mulheres pós-menopáusicas, a deficiência de vitamina B6 eleva os níveis de homocisteína, um fator de risco independente para aterosclerose e eventos coronarianos.
Além disso, por participar da síntese de serotonina e dopamina, a vitamina B6 é essencial para regulação do humor: meta-análises apontam que níveis reduzidos podem predispor ao surgimento de sintomas depressivos, e sua suplementação diminui a concentração sérica de homocisteína.
Já a vitamina B12, em conjunto com o ácido fólico, também regula o metabolismo da homocisteína. Sua deficiência favorece:
- Risco de doenças cardiovasculares, AVC
- Alzheimer e comprometimento cognitivo no geral
- Neuropatia periférica e distúrbios neuropsiquiátricos (depressão, psicose)
- Menor densidade mineral óssea, elevando risco de osteoporose e fragilidade
- Anemia
Vitamina D
A vitamina D é fundamental para a homeostase do cálcio e fósforo, mineralização óssea e regulação da secreção do hormônio paratireoideo (PTH).
Durante a pós-menopausa, o risco de deficiência aumenta significativamente, influenciado pela menor exposição solar, alterações na composição corporal, redução da atividade física e menor eficiência cutânea na síntese da vitamina.
Estudos mostram que mulheres pós-menopáusicas com deficiência de vitamina D apresentam maior risco de alterações no perfil lipídico, síndrome metabólica, triglicerídeos elevados, HDL reduzido e risco cardiovascular.
A deficiência de vitamina D também está diretamente associada à maior risco de hiperparatireoidismo secundário, aumento da remodelação óssea, perda de massa óssea, fraqueza muscular e osteoporose pós-menopausa, resultando em maior incidência de fraturas.
Por outro lado, a suplementação conjunta de 700–800 UI de vitamina D3 e 500–1200 mg de cálcio mostrou melhorar a densidade mineral óssea em várias regiões do esqueleto e reduzir o risco de fraturas.
Diretrizes europeias recomendam a ingestão diária de 800 UI de vitamina D, 1000 mg de cálcio e 1 g/kg de proteína corporal para todas as mulheres acima de 50 anos.
Ferro
O ferro é um oligoelemento envolvido em processos fisiológicos vitais: transporte de oxigênio, síntese de DNA e produção de energia.
A ferritina é o marcador utilizado para avaliar seus estoques corporais. Durante a transição menopausal, a queda do estrogênio — associada à cessação da menstruação — resulta em aumento progressivo dos níveis de ferritina.
Embora o ferro seja essencial, seu excesso pode ser prejudicial, com associações relativas ao:
- Acúmulo hepático e cardíaco de ferro
- Risco de eventos cardiovasculares
- Estresse oxidativo
- Vulnerabilidade da pele à radiação UV e envelhecimento cutâneo
- Falência orgânica progressiva
- Risco de câncer de mama
- Perda de densidade mineral óssea e maior vulnerabilidade à osteoporose e fraturas vertebrais
A regulação do metabolismo do ferro pela hepcidina tem ganhado destaque. Esse peptídeo inibe a ação da ferroportina, reduzindo a absorção e liberação de ferro para o plasma, sugerindo um papel terapêutico no controle da sobrecarga de ferro e na prevenção da osteoporose. Agentes quelantes como a deferiprona também têm sido considerados nesse contexto.
Apesar da ampla associação entre ferritina elevada e doenças cardiovasculares, os achados são ainda controversos. Ainda assim, recomenda-se que mulheres pós-menopáusicas com níveis elevados de ferritina recebam manejo apropriado dos fatores de risco cardiovascular.
Ômega-3
Os ácidos graxos ômega-3 exercem funções essenciais nos sistemas cardiovascular, pulmonar, imune e endócrino, além de participarem da saúde cerebral e ocular, e possuírem efeitos anti-inflamatórios, sensibilizadores da insulina e protetores ósseos.
Na saúde óssea, os ômega-3 demonstram potencial para suprimir a reabsorção óssea e prevenir a perda de massa óssea, o que é especialmente relevante para mulheres na pós-menopausa.No entanto, os efeitos sobre marcadores de remodelação óssea ainda são controversos.
Ademais, o ômega-3 apresenta efeitos positivos na função cognitiva, prevenção de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, além de atuar na modulação da imunidade. Estudos apontam que a ingestão adequada pode ajudar a restaurar a cognição, especialmente em fases de declínio, como na pós-menopausa.
Licopeno
Licopeno é um carotenoide lipossolúvel responsável pela coloração vermelha de diversos alimentos. Como potente antioxidante, o licopeno neutraliza radicais livres e alivia o estresse oxidativo, modulando também a função imune.
Pesquisam mostram que níveis elevados de licopeno, que podem ser atingidos a partir da suplementação, podem trazer os seguintes benefícios:
- Saúde cardiovascular: redução da oxidação de LDL e colesterol total, menor incidência de doenças coronarianas e hipertensão, redução significativa da pressão arterial;
- Campo oncológico: efeitos antitumorais (ao induzir parada de crescimento e apoptose em células de câncer); associação inversa com câncer de mama, próstata e pulmão, embora achados sejam conflitantes;
- Saúde óssea: proliferação e diferenciação de osteoblastos, inibição da formação de osteoclastos, redução de marcadores de reabsorção óssea, prevenção da osteoporose pós-menopausa;
- Saúde neuroprotetora: diminuição da neuroinflamação, proteção contra a apoptose neuronal e melhora da função mitocondrial.
Recomendações de nutrientes na pós-menopausa
Na tabela abaixo, confira a recomendação de ingestão dos principais nutrientes estudados para mulheres na pós-menopausa.
Nutriente | Consumo diário na pós-menopausa |
Vitamina B6 | 1.5 mg |
Vitamina B12 | 2,4 ug |
Vitamina D | 20 ug (800 UI) |
Ferro | 8 mg |
Ômega-3 | 2 a 4 g |
Licopeno | > 30 mg |
Conclusão
Em suma, garantir níveis adequados de vitaminas e nutrientes, por meio de uma alimentação equilibrada — rica em frutas, vegetais e gorduras saudáveis — e, quando necessário, com suplementação individualizada, é fundamental para reduzir riscos à saúde de mulheres na pós-menopausa.
Contudo, os autores ressaltam a necessidade de estudos mais recentes com foco em recomendações adequadas para alcançar desfechos clínicos positivos.
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Referência:
Wylenzek, F., Bühling, K.J. & Laakmann, E. A systematic review on the impact of nutrition and possible supplementation on the deficiency of vitamin complexes, iron, omega-3-fatty acids, and lycopene in relation to increased morbidity in women after menopause. Arch Gynecol Obstet 310, 2235–2245 (2024). https://doi.org/10.1007/s00404-024-07555-6