Nos pacientes pediátricos críticos há um aumento da demanda calórica e proteica, o que eleva também o risco do déficit nutricional e morbimortalidade. A nutrição e a função pulmonar são conhecidas por estar intimamente relacionadas nos pacientes que apresentam insuficiência respiratória e necessitam de suporte ventilatório, já que a musculatura respiratória é suscetível ao catabolismo proteico característico da doença crítica, podendo aumentar a resistência e dependência da ventilação mecânica (VM).
Sabe-se que a ingestão calórica e proteica adequada está associada a melhores resultados clínicos em crianças graves. O objetivo deste estudo foi avaliar o tempo de início da terapia nutricional enteral (TNE) e a ingestão calórico-proteica em pacientes admitidos na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) com insuficiência respiratória.
O estudo brasileiro de coorte prospectivo incluiu crianças e adolescentes, com idades entre 1 mês e 14 anos, admitidos na UTPI por pelo menos 48 horas, com quadro agudo ou crônico de insuficiência respiratória e indicação para TNE por cateter nasoenteral ou enterostomia. A prescrição dietética levou em consideração a possibilidade de preferência para o leite materno e as indicações para faixa etária, peso e variabilidade das condições clínicas. A necessidade calórica foi estimada usando as equações da OMS para cálculo da taxa metabólica basal sem correção do fator de estresse e o requerimento proteico foi definido como 1,5 g/kg/dia. A terapia nutrição enteral precoce (TNEP) foi considerada quando iniciada nas primeiras 48 h da admissão na UTIP.
Dos 571 pacientes internados na UTIP, 71 foram elegíveis e incluídos neste estudo com idade média de 6 meses (2; 13) e tempo médio de internação de 13 dias (6,75; 23). A maioria dos pacientes eram do sexo masculino (65%). Em relação à avaliação do estado nutricional, 26% dos lactentes estavam desnutridos e 7% apresentavam sobrepeso/obesidade. Mais de 80% dos pacientes não usaram drogas vasoativas até dia 02 da admissão na UTIP e 79% dos pacientes fizeram uso de VM nas primeiras 48 horas da admissão na UTIP, com tempo médio de VM de 10 dias (6,00; 16,50).
O tempo médio para iniciar TNE foi de 39h e 69% dos pacientes receberam TNEP. A média da adequação energética foi de 75% e a média da adequação das proteínas foi de 56%. Apenas 7,25% dos pacientes alcançaram adequação proteica. As variáveis nutricionais foram comparadas entre os grupos: TNEP e TNET (tardia). A mortalidade na UTIP foi de 4,23%.
O grupo TNEP recebeu significativamente maior aporte calórico e proteico que o grupo NET (p <0,0001). No entanto, mesmo no grupo TNEP, com uma média de adequação energética de 81%, a média da adequação proteica (63%), embora maior, permaneceu insuficiente para atender aos requisitos estimados. O tempo de início da TNE não se associou ao quadro vasoativo, uso de drogas, tempo de VM, tempo de internação e mortalidade na UTIP.
Os autores referem que o maior obstáculo no fornecimento da proteína necessária à dieta foi a falta de fórmulas infantis e enterais para crianças gravemente doentes. Eles concluem que mesmo que a TNEP tenha sido possível em 69% dos pacientes, a inadequação proteica ainda foi significativa e presente em quase todos os pacientes estudados, independente do início da NE.
Por: Patrícia Morais