Dietas densas em energia, obesidade e sedentarismo são amplamente associados ao aumento dramático na prevalência de diabetes tipo 2 (DM2). Na maioria das vezes, o manejo eficaz do DM2 inclui modificações no estilo de vida (dieta, exercícios) e intervenções farmacológicas. No que se refere a mudanças dietéticas, o aumento da ingestão de fibra alimentar é reconhecido como intervenção importante, ao beneficiar o metabolismo e impactar positivamente parâmetros metabólicos como peso e hemoglobina glicada.
Polissacarídeos complexos têm se mostrado eficientes para reduzir a glicemia pós-prandial e o índice glicêmico de alimentos variados, além de impactar a circunferência da cintura e o colesterol LDL. A combinação de fibras com outras medidas educativas do estilo de vida promove melhoras significativas no controle glicêmico, e alguns estudos indicam que a combinação de fibras com medicamentos antidiabéticos pode reduzir o peso corporal, induzir alterações na circunferência da cintura, índice de resistência à insulina e microbiota, impactando marcadores de inflamação crônica de baixo grau.
Um estudo recente avaliou o efeito do consumo de fibra solúvel de alta viscosidade no controle glicêmico, fatores de risco cardiometabólicos e perda de peso em adultos com DM2 e sobrepeso ou obesidade. Os participantes estavam matriculados em um programa de controle de peso supervisionado por equipe médica, que realizou um acompanhamento durante todo período de estudo.
Para reduzir a ingestão energética foi realizada intervenção dietética direcionada, visando promover um déficit calórico entre 500-1000 kcal/dia. Substitutos líquidos de refeição (26,6 g de proteína, 4,4g de gordura e 23,3g de carboidrato por porção) foram utilizados 2x/dia durante 20 semanas e 1x/dia a partir de 21 semanas. A dose de fibra utilizada variou de 15 a 20g/dia, conforme adequação do valor total de calorias da dieta.
Participantes se reuniram regularmente com um nutricionista para receber aconselhamento nutricional. O plano alimentar prescrito incluía 30% de energia como proteína, ≤ 25% de energia como gordura, ≤ 45% de energia como carboidrato e 30 g de fibra por dia. Os participantes registraram sua ingestão de alimentos em casa, usando diários alimentares diários, e todo material foi analisado a cada visita clínica, que ocorria a cada 4 semanas de 0 a 20 semanas e depois a cada 6 semanas até completar 52 semanas.
O estudo duplo-cego, controlado por placebo, teve como desfecho primário a mudança no controle glicêmico medido pela hemoglobina glicada (HbA1c). Os desfechos secundários incluíram mudança no peso corporal, circunferência da cintura e quadril, pressão arterial e perfil de lipídios no sangue. Para examinar os mecanismos potenciais pelos quais a fibra solúvel de alta viscosidade pode beneficiar o controle glicêmico e metabólico, a composição da microbiota intestinal e os marcadores de inflamação foram medidos.
O estudo forneceu uma nova visão sobre o uso potencial da fibra solúvel de alta viscosidade para aumentar os benefícios metabólicos associados a um programa de controle de peso. Ao final de 52 semanas, as melhorias anteriores na HbA1c e no peso corporal não estavam mais presentes nos participantes designados para o grupo placebo. Em contraste, os participantes que receberam a suplementação de fibra solúvel de alta viscosidade mantiveram reduções significativas na HbA1c, circunferência da cintura e peso corporal em 52 semanas. Apesar dos conhecidos efeitos colaterais gastrintestinais da suplementação de fibra, mais pacientes desejaram permanecer com a suplementação de fibra do que o placebo no final do estudo. Esses resultados positivos fornecem mais evidências de que a suplementação de fibra viscosa pode ser um complemento razoável para mudanças no estilo de vida de pessoas com DM2 e peso elevado.
Referência: Reimer RA, Wharton S, Green TJ, Manjoo P, Ramay HR, Lyon MR, Gahler RJ, Wood S. Effect of a functional fibre supplement on glycemic control when added to a year-long medically supervised weight management program in adults with type 2 diabetes. Eur J Nutr. 2021 Apr;60(3):1237-1251.