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A nutrição enteral domiciliar (NED) é uma alternativa cada vez mais utilizada para manter o suporte nutricional de pacientes com trato gastrointestinal funcional, mas incapazes de manter sua nutrição e hidratação por via oral.
Apesar de reduzir hospitalizações e permitir melhor qualidade de vida, sua implementação em casa traz desafios significativos. Complicações como conexões incorretas são frequentemente subnotificadas e difíceis de resolver.
Assim, a NED exige uma ampla educação e comunicação entre profissionais de saúde, pacientes e cuidadores.
Um estudo multicêntrico recente buscou entender melhor essas experiências, analisando dados de uma ampla pesquisa internacional. Confira detalhes a seguir.
Sobre o estudo
O estudo transversal convidou 884 pacientes ou cuidadores de pacientes em uso de NED a responder a um questionário online. Dos entrevistados, 566 (64%) eram crianças e 318 (36%) eram adultos, com origem na América do Norte e Europa.
O objetivo principal deste estudo foi avaliar a experiência geral com a NED no mundo real.
Os objetivos secundários foram avaliar o uso de conectores compatíveis com a norma ISO 80369-3 em comparação com conectores de tubo legados e a prevalência de complicações relacionadas à NED.
Principais achados
Perfil dos pacientes
Crianças: maioria com atraso no desenvolvimento e anomalias congênitas.
Das crianças entrevistadas, a média de idade foi de 4 anos (1.9 a 8), com duração média de nutrição enteral domiciliar de 38 meses (22 a 75).
O mecanismo fisiopatológico primário mais comum foi o atraso no desenvolvimento, seguido por anomalias congênitas.
Já para os adultos, a média de idade foi de 40 anos (25 a 59), com duração média de NED de 58 meses (26 a 139).
Houve predominância de distúrbios de motilidade, seguidos por distúrbios neurológicos e câncer.
Dispositivos e conectores
No grupo pediátrico, uma sonda gástrica de baixo perfil foi utilizada como sonda de alimentação na maioria dos pacientes (75,7%).
Já em adultos, houve maior variedade, incluindo sondas gástricas de baixo perfil (30,3%), sondas gástricas e gastrojejunais padrão (17,8% e 14,3%).
Tubos compatíveis com a norma ISO 80369-3 foram utilizados em apenas 38,9% dos pacientes pediátricos e 29,7% dos adultos, com aproximadamente 1 em cada 2 pacientes relatando que ainda utilizava um tubo com um conector antigo.
Muitos pacientes e cuidadores (até 42,9% no grupo dos adultos) nem ao menos sabiam identificar o tipo de conector usado.
Regime de nutrição enteral domiciliar
Fórmulas comerciais foram as mais utilizadas em ambos os grupos (51,2% em crianças e 72% em adultos).
As crianças receberam predominantemente alimentação intermitente (71,7%), enquanto os pacientes adultos utilizaram alimentação contínua com mais frequência (58,2%).
O uso de bomba foi o método de administração de NED mais utilizado no grupo pediátrico (74,6%) e adulto (69,3%), seguido por bolus (push) em 34,9% das crianças e 16,5% para adultos.
Complicações frequentes
As complicações mais relatadas incluíram:
– Infecção no sítio do tubo: relatada por 37% das crianças e 42,7% dos adultos no último ano.
– Desconexão durante a alimentação: relatada mensalmente por até 44,9% das crianças e 38% dos adultos.
– Obstrução do tubo: pelo menos 1 episódio/mês em 23,6% das crianças e 26,8% dos adultos.
– Torção na sonda: ocorreu em 58,1% das crianças e 39,3% dos adultos, pelo menos 1 vez por mês.
– Higienização insuficiente: mais de 1 em cada 10 pacientes (12,6% das crianças e 15,6% dos adultos) relatou não limpar o conector.
O que podemos concluir?
O estudo mostrou que, apesar dos avanços técnicos e da disponibilidade de novas normas de segurança, as complicações relacionadas à nutrição enteral domiciliar permanecem prevalentes.
A baixa adesão aos conectores padronizados ISO 80369-3 e a falta de conhecimento de pacientes e cuidadores evidenciam a necessidade de educação contínua, suporte multiprofissional e acompanhamento próximo.
Assim, melhorar a capacitação de cuidadores e a transição hospital-domicílio é essencial para reduzir complicações e garantir qualidade de vida.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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- ESPEN – Nutrição Enteral Domiciliar
- ESPEN – Guidelines de nutrição enteral domiciliar
- ESPEN – Nutrição Parenteral Domiciliar
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Referência
Mohamed Elfadil O, Patel A, Joly F, Lal S, Bozzetti F, Cuerda C, Jeppesen PB, Van Gossum A, Wanten G, Szczepanek K, Lamprecht G, Vanuytsel T, Pironi L, Hurt RT, Mundi MS. Patients’ and caregivers’ perspective on challenges and outcomes with tube feeding: Analysis of home enteral nutrition survey data. Clin Nutr ESPEN. 2024;61:94-100. doi:10.1016/j.clnesp.2024.03.005