Sono de curta duração e de má qualidade pode aumentar o risco de obesidade e levar a distúrbios metabólicos. Estudos indicam importante associação entre trabalho noturno e hipertrigliceridemia, além de maior risco de desenvolvimento de dislipidemia, que é considerado componente importante de doenças cardiovasculares.
Os mecanismos centrais que explicam a relação entre trabalho noturno e problemas de saúde são perturbações circadianas, supressão de melatonina, distúrbios do sono e mudanças no estilo de vida, que afetam os chamados relógios periféricos. O desenvolvimento da dislipidemia implica no consumo alimentar inadequado e o horário de alimentação pode influenciar a regulação metabólica.
Para avaliar a relação entre a perturbação circadiana, hábitos alimentares, características do sono e parâmetros dislipidêmicos, um estudo recente foi conduzido com 36 enfermeiras que trabalhavam em período noturno (12hx36h). O estudo randomizado, duplo cego, cruzado e controlado foi realizado em um hospital de grande porte na cidade de São Paulo. Foram incluídas mulheres com idade entre 20 e 50 anos, índice de massa corporal (IMC) entre ≥ 25 kg/m2 e ≤ 40 kg /m2, que trabalhassem há pelo menos seis meses no turno noturno e não estivessem realizando dietas restritas e/ou iniciado novas atividades físicas durante a participação no estudo.
A duração do sono foi obtida pelo Questionário de Munich ChronoType para trabalhadores por turnos (MCTQshift), que contém perguntas sobre o início e duração do sono, tanto para os dias de trabalho quanto para os dias de folga. A partir das informações obtidas, foram calculados o cronótipo, o jetlag social e a duração do sono. O diário alimentar foi aplicado para trazer informações sobre a ingestão calórica da última refeição antes do início do sono (porcentagens e a quantidade em gramas dos nutrientes totais de carboidratos, proteínas e gorduras).
A duração média do sono noturno foi 5,76 h, o cronótipo médio foi o tipo matinal moderado e o jetlag social médio foi de 03:42 h. Verificou-se que uma hora a menos de sono noturno aumentou os níveis de colesterol VLDL em 2,75 mg / dl e os níveis de triglicerídeos em 3,62 mg / dl. Além disso, o jetlag social mais alto foi associado a níveis mais elevados de colesterol LDL. Por outro lado, cada hora adicional no cronótipo aumentava os níveis de HDL-colesterol em 3,06 mg / dl. O intervalo de tempo superior a duas horas entre a última refeição e o início do sono esteve associado a níveis mais elevados de HDL-colesterol.
Os autores concluíram que a curta duração do sono noturno e o alto jetlag social são fatores de risco para dislipidemia, e que o cronótipo do tipo noturno e maior intervalo de tempo entre a última refeição e o início do sono parecem ser fatores de proteção para a dislipidemia.
Referência:
Garrido ALF, Duarte AS, Santana PT, Rodrigues GH, Pellegrino P, Nogueira LFR, Cipolla-Neto J, Moreno CRC, Marqueze EC. Eating habits, sleep, and a proxy for circadian disruption are correlated with dyslipidemia in overweight night workers. Nutrition. 2021;83:111084.
