Prevenção do câncer: o papel do estilo de vida

Prevenção do câncer: o papel do estilo de vida

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Fonte: Canva

O câncer é uma das principais causas de morte em todo o mundo. Entretanto, sabe-se que a maioria dos tipos de câncer pode ser prevenido por meio da adoção de um estilo de vida saudável. 

Numerosos estudos mostram uma possível conexão entre estilos alimentares e certos tipos de câncer, como câncer de mama, gástrico e colorretal.

Um recente artigo científico buscou examinar como o estilo de vida pode influenciar o risco, e como fatores modificáveis podem levar à prevenção do câncer. Confira seus principais achados a seguir.

Fatores de estilo de vida e risco de câncer

Sobrepeso e obesidade

A obesidade e o IMC elevado representam um fator fundamental, perdendo apenas para o tabagismo, como a causa mais comum de câncer.

Um estudo destacou que a obesidade é responsável por 5% dos casos de câncer em homens e 10% dos casos em mulheres. Na idade adulta, o ganho de peso está relacionado a vários tipos de câncer, como câncer de mama, colorretal, próstata, rim, ovário, estômago, endométrio, esofágico, pancreático e outros.

Pesquisas indicam que a obesidade não está apenas associada ao risco de desenvolver câncer, mas também aumenta a recorrência e mortalidade entre pacientes que venceram o câncer.

Os mecanismos pelos quais o excesso de peso induz ao câncer incluem:

  • Desequilíbrios no tecido adiposo, favorecendo a liberação de citocinas inflamatórias (IL-6 e TNF) que danificam o DNA, induzem mutações e estimulam a proliferação celular e a invasão de células tumorais;
  • Estado de inflamação crônica;
  • Alto estresse oxidativo e produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), que danificam o DNA e favorecem a carcinogênese
  • Desregulação da produção de hormônios (estrogênios, androgênios, leptina, etc)

Alimentação

Uma dieta equilibrada está frequentemente associada à redução do risco de surgimento de diversos tipos de tumores, podendo prevenir de 30% a 50% dos casos.

Os alimentos com efeito protetor incluem:

  • Frutas e vegetais ricos em compostos bioativos (como polifenóis e carotenoides), vitaminas do complexo B (como B12 e ácido fólico) e selênio;
  • Alimentos ricos em fibras, leite e derivados;
  • Fontes de ômega-3, como peixes gordurosos e oleaginosas.

Esses nutrientes e compostos exercem efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, induzindo apoptose, inibindo a proliferação celular, a angiogênese e a invasividade de células tumorais.

Entre os padrões alimentares, a dieta mediterrânea se destaca como o modelo mais próximo da alimentação ideal. Diversos estudos mostram uma relação inversa entre sua adesão e o risco de mortalidade e incidência de vários tipos de câncer, como colorretal, mama, próstata, fígado, estômago e cânceres de cabeça e pescoço.

Por outro lado, padrões alimentares ricos em gorduras saturadas, carnes vermelhas e processadas aumentam o risco de desenvolvimento da doença.

Vitamina D

Estudos demonstram que a vitamina D possui propriedades biológicas importantes na prevenção do câncer, inibindo o crescimento de células tumorais, a angiogênese e a metástase, além de induzir a apoptose em diversos tipos tumorais.

Um dado que reforça o possível papel da vitamina D no câncer é a presença de receptores específicos nas células tumorais, e não apenas nas células ósseas ou envolvidas na regulação do cálcio.

Níveis séricos mais baixos de 25(OH)D estão associados a um risco aumentado de vários tipos de câncer, incluindo colorretal, mama e próstata. Já níveis mais elevados parecem ter um efeito protetor. 

Em pacientes já diagnosticados com câncer, a suplementação com vitamina D tem sido associada a um prognóstico mais favorável.

Atividade física

Dados científicos mostram que a prática de exercícios físicos está associada a uma redução de 10% a 25% no risco de desenvolver câncer, incluindo câncer de bexiga, mama, colorretal, endométrio, esôfago e estômago. Além disso, impacta positivamente na incidência de câncer de pulmão, rim, pâncreas e ovário.

Mesmo em pessoas já diagnosticadas com câncer, manter um estilo de vida ativo está associado a maior sobrevida e qualidade de vida. A prática intensa por pelo menos 15 a 20 minutos por semana foi ligada a uma redução do risco de mortalidade entre 16% e 40% — com resultados ainda mais expressivos para quem pratica entre 50 e 57 minutos semanais. 

Os mecanismos que explicam os benefícios da atividade física incluem:

  • Estímulo ao sistema imunológico;
  • Redução de processos inflamatórios crônicos;
  • Prevenção do acúmulo de gordura corporal e da ativação de fatores inflamatórios associados ao crescimento tumoral.

Em contrapartida, o sedentarismo suprime o sistema imune e promove a inflamação.

Álcool

O álcool é um carcinógeno do grupo 1, responsável por tipos de câncer, incluindo esôfago, fígado, colorretal e mama. Estima-se que responda por cerca de 4% dos casos de câncer no mundo, mais de 740 mil casos por ano.

Estudos mostram resultados mistos sobre o consumo moderado: alguns indicam que 1 a 2 copos por dia aumentam o risco de câncer de mama, colorretal, fígado e esôfago, enquanto outros sugerem que doses entre 6 e 25 g/dia podem reduzir o risco. 

Pesquisas em países com dieta mediterrânea associam o consumo moderado de vinho tinto à redução do risco de câncer e proteção cardiovascular, atribuída aos polifenois, que têm efeito antioxidante e anti-inflamatório.

Foi demonstrado que o álcool promove estresse oxidativo e inflamação nas células cancerígenas, danificando o DNA. No câncer de mama, ele também estimula a proliferação celular, angiogênese e a capacidade das células tumorais de invadir e metastatizar.

Tabagismo

O tabagismo é considerado um dos fatores de risco mais significativos, senão o mais significativo, no desenvolvimento do câncer e mortalidade.

A associação com câncer de pulmão é bem estabelecida, mas o tabagismo também está relacionado a cânceres de bexiga, cabeça e pescoço, estômago, colorretal, esôfago, pâncreas, rim, fígado e colo do útero.

Mesmo após o diagnóstico de câncer, continuar fumando aumenta o risco de mortalidade, recidiva tumoral, complicações no tratamento e surgimento de novos tumores.

Os mecanismos envolvidos incluem a exposição a compostos carcinogênicos, como hidrocarbonetos policíclicos, nitrosaminas e acrilamidas, que causam danos ao DNA. Além disso, o cigarro contém espécies reativas de oxigênio e nitrogênio que promovem estresse oxidativo, inflamação crônica e, consequentemente, a formação de tumores.

Afinal, quais as recomendações para prevenção de câncer?

Segundo o Fundo Mundial para Pesquisa do Câncer (WCRF) e o Instituto Americano de Pesquisa do Câncer (AICR), as principais ações para prevenção de câncer são:

  1. Manter um peso saudável ao longo da vida (IMC de 18,5 a 24,9)
  2. Praticar atividade física e reduzir rotinas passivas
  3. Consumir uma dieta rica em cereais, vegetais, frutas e feijões (pelo menos 30 g/dia de fibras)
  4. Restringir o consumo de fast foods e alimentos processados ​​ricos em gordura, amido ou açúcar
  5. Reduzir o consumo de carnes vermelhas e processadas
  6. Reduzir ou evitar o consumo de álcool

Para ler o artigo científico completo, clique aqui.

Referência:

Marino P, Mininni M, Deiana G, Marino G, Divella R, Bochicchio I, Giuliano A, Lapadula S, Lettini AR, Sanseverino F. Healthy Lifestyle and Cancer Risk: Modifiable Risk Factors to Prevent Cancer. Nutrients. 2024 Mar 11;16(6):800. doi: 10.3390/nu16060800. PMID: 38542712; PMCID: PMC10974142.

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