Apesar de essencial, o colesterol pode estar envolvido em diversas doenças quando em níveis não adequados. Doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, hepatite não alcoólica e cânceres estão relacionadas à desregulação do metabolismo do colesterol. Fatores genéticos e dieta impactam nos níveis de colesterol circulante, contudo, os estudos epidemiológicos mais recentes correlacionam colesterol plasmático com a composição da microbiota intestinal.
Alguns estudos demonstraram a correlação positiva entre alguns gêneros de bactérias e a lipoproteína de baixa densidade (LDL), considerado um tipo ruim de colesterol que se associa com doenças cardiovasculares. O mecanismo de ação não está completamente esclarecido, por essa razão, pesquisadores da Universidade de Sorbonne desenharam um experimento científico, dividido em duas partes.
Na primeira fase, eliminaram os micro-organismos do intestino de camundongos, usando antibióticos para verificar como isso afetaria o metabolismo do colesterol. Nessa etapa eles observaram que houve uma amplificação do metabolismo do colesterol e de sais biliares através do aumento da absorção intestinal de colesterol e de sais biliares, da síntese de quilomícrons, aumento da recaptação hepática de LDL colesterol, da síntese tanto de colesterol como de sais biliares e da secreção de sais biliares no lúmen intestinal. Na segunda etapa, o intestino de camundongos foi recolonizado com amostras de microbiota de indivíduos que apresentavam perfil lipídico normal ou que apresentavam perfil lipídico compatível com risco cardiovascular, assim cada grupo de camundongos recebeu uma microbiota específica.
Os pesquisadores observaram que os animais que receberam as amostras dos doadores dislipidêmicos apresentaram aumento da absorção de colesterol da dieta e diminuição da síntese de colesterol endógena. O contrário foi observado nos animais que receberam as amostras dos indivíduos normocolesterolêmicos. Esse resultado implica que a microbiota intestinal seja capaz de alterar o equilíbrio de absorção e síntese de colesterol.
Os autores afirmam que seus achados ajudam a pensar em novas estratégias para prevenir e tratar dislipidemias e doenças cardiovasculares, incluindo diversificar a microbiota intestinal através do uso de moduladores (pré e probióticos) ou transplante de fezes.
Referência: Le Roy et al. The intestinal microbiota regulates host cholesterol homeostasis. BMC Biology (2019) 17:94.
Por: Magda Medeiros