Temos na literatura muitas evidências da eficácia a curto prazo das intervenções no estilo de vida no diabetes tipo 2 (DM2). No entanto, pouco se sabe sobre os efeitos em longo prazo dessas intervenções.
Pot GK e colaboradores, realizaram um estudo observacional de braço único (Reverse Diabetes2 Now – RD2N) para avaliar o impacto a longo prazo de um programa de estilo de vida multidisciplinar por 6 meses (que poderia ser estendido), para controle sobre sua doença (controle glicêmico e uso de hipoglicemiantes (HO), melhorando sua saúde, nutrição e habilidades de estilo de vida em 438 participantes com DM2.
Os critérios de inclusão para o programa RD2N foram diagnóstico de DM2, idade de 18 a 75 anos, IMC de 25 a 41 kg/m2 e motivação para participar de um programa de intervenção no estilo de vida. O aconselhamento nutricional envolveu o aumento da ingestão de alimentos não processados ou minimamente processados, sendo baixo em carboidratos de alto índice glicêmico e adequado a um padrão alimentar mediterrâneo. Além disso, as habilidades de alfabetização alimentar e culinárias foram implantadas. Os participantes receberam orientação por 6 meses por uma equipe multidisciplinar incluindo nutricionista, treinador pessoal e enfermeira, além de treinamento de familiares.
Em 24 meses, 234 participantes forneceram informações sobre uso de HO e valor da HbA1c (Hemoglobina glicada). 67% dos que responderam usaram menos HO e 28% pararam de usar todo o HO. Notavelmente, 71% dos usuários de insulina no início do estudo (n = 47 de 66 usuários de insulina) pararam de tomar insulina aos 24 meses.
Os níveis médios de HbA1c foram semelhantes em 24 meses em comparação com o basal (55,6 ± 12,8 vs. 56,3 ± 10,5 mmol/mol, p = 0,43), porém mais respondentes ao programa tiveram níveis de HbA1c ≤53mmol/mol em 24 meses (53% vs 45% basal). Além disso, nessa população os níveis de triglicerídeos −0,34 ± 1,02mmol/L, p = 0,004), peso corporal (−7,0 ± 6,8 kg, p <0,001), circunferência da cintura (−7,9 ± 8,2 cm, p <0,001), IMC (- 2,4 ± 2,3 kg / m2, p <0,001) e a relação colesterol total/HDL (−0,22 ± 1,24, p = 0,044) foram menores, enquanto HDL (+0,17 ± 0,53mmol/L, p <0,001) e níveis de LDL (+0,18 ± 1,06mmol/L, p = 0,040) foram ligeiramente maiores. Não foram observadas diferenças nos níveis de glicose em jejum ou colesterol total. Qualidade de vida e saúde autorrelatada melhoraram significativamente.
Este estudo indica benefícios robustos e duráveis na vida real deste programa de intervenção em relação a mudança de estilo de vida após até 24 meses de acompanhamento, particularmente em termos de redução do uso de medicamentos, peso corporal e qualidade de vida em pacientes com DM2.