O Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) ocorre pela destruição imunomediada de células beta do pâncreas, o que leva à dependência vitalícia do tratamento com insulina. Esta doença geralmente se apresenta na infância e possui fatores genéticos associados, mas fatores não genéticos também têm sido elencados como adjuvantes de seu surgimento.
Em um estudo populacional com duração de 10 anos, Lund-Blix e colaboradores avaliaram a relação entre o consumo de glúten e o risco de desenvolvimento de DM tipo 1 em crianças. Questionários semiquantitativos de frequência alimentar foram aplicados em gestantes com 22 semanas de gestação e crianças com 18 meses de idade.
Dados demográficos e clínicos também foram coletados. Das crianças participantes, 0,4% (346) foram diagnosticadas com DM1. A taxa de incidência de DM1 foi de 32,6 para cada 100.000 pessoas e a idade média de diagnóstico foi de 7,5 anos. A ingestão média materna de glúten foi de 13,6 g/dia durante a gestação e de crianças até os 18 meses de 8,8 g/dia.
De modo geral, o consumo de glúten foi menor em mães com menor ingestão de energia e fibras, e em filhos de mães mais jovens, com menor educação e que amamentaram seus filhos por menos tempo (p<0,001 para ambos). Filhos de mães que tiveram baixa ingestão de glúten durante a gestação apresentaram tendência a menor ingestão de glúten até os 18 meses.
A ingestão materna de glúten durante a gestação não se associou a um maior risco de DM1 da prole (aHR 1,02). No entanto, a ingestão de glúten pela criança até seus 18 meses foi significativamente associada com maior risco de DM1, sendo dose-correspondente. A cada 10g/dia de aumento da ingestão de glúten, houve aumento do risco de DM1 (aHR 1,46; p=0,02).
Os autores concluíram que a maior ingestão de glúten por crianças até seus 18 meses de idade se associou com aumento do risco de desenvolvimento de DM1.