Glutamina e câncer: eficácia do suplemento na radiodermatite

Glutamina e câncer: eficácia do suplemento na radiodermatite

Glutamina e câncer
Fonte: Canva.com

Cerca de 60 a 95% dos pacientes com câncer desenvolvem radiodermatite, condição caracterizada por danos cutâneos induzidos pela radioterapia. Seus sintomas incluem eritema, descamação, atrofia e fibrose persistentes, e pode prejudicar a qualidade de vida do paciente oncológico, e menor sobrevida. 

Na busca por tratamentos para essa condição, alguns artigos científicos apontam a suplementação de glutamina como uma solução promissora. Assim, para esclarecer a relação entre glutamina e câncer (particularmente no tratamento da radiodermatite), pesquisadores desenvolveram uma revisão sistemática e meta-análise sobre o tema.

A seguir, confira os detalhes sobre este recente estudo — os achados podem te surpreender.

Cinco pesquisas sobre glutamina e câncer foram analisadas

Foram incluídos cinco ensaios clínicos randomizados, com publicação entre 2013 a 2019. Ao total, 218 pacientes integraram a revisão sistemática, com idade média de 46 a 64 anos. Os tipos de câncer foram câncer de mama e  de cabeça ou pescoço

Para a avaliação da radiodermatite, as ferramentas foram as da Radiation Therapy Oncology Group (RTOG) e os Critérios de Terminologia Comum para Eventos Adversos do Instituto Nacional do Câncer (CTCAE). 

A RTOG categoriza a radiodermatite em cinco graus, variando do grau 0 (sem alteração da linha de base) ao grau 4 (sintomas graves, incluindo ulceração, hemorragia, necrose). Já a CTCAE classifica a radiodermatite em cinco graus, onde o grau 1 denota sintomas leves (eritema leve ou descamação seca) e o grau 5 representa o resultado mais grave (morte).

O desfecho primário da pesquisa foi a incidência de radiodermatite, enquanto o desfecho secundário foi a incidência de radiodermatite moderada a grave

A administração de glutamina variou entre os estudos. Em três ensaios, houve administração de 10 a 15 g de glutamina, 3 vezes ao dia. Outro ensaio administrou 0,5 g/kg/dia de glutamina. Por fim, o último estudo administrou um suplemento enteral de aminoácidos (7 g arginina, 7 g glutamina e 1,2 g HMB) 2 vezes por dia.

Glutamina reduz incidência de radiodermatite em pacientes com câncer

Após a análise das pesquisas, os autores concluíram que a suplementação de glutamina é benéfica para a radiodermatite em pacientes oncológicos.

Em primeiro lugar, a incidência de radiodermatite nos grupos que suplementaram a glutamina foi significativamente menor do que nos grupos placebo (80,9% vs. 91,6%). 

A análise também revelou uma incidência 51% menor de radiodermatite graus 2 a 4 no grupo glutamina em comparação ao grupo placebo. Na análise de subgrupo, este resultado foi significativo apenas em pacientes com câncer de cabeça ou pescoço, indicando que o impacto da glutamina pode variar com o tipo de câncer.

Já em relação à dose, valores de 20 a 30 g/dia de glutamina demonstraram uma redução significativa no risco de radiodermatite graus 2 a 4, o que não pode ser comprovado nas doses menores de 10 a 20 g/dia. Assim, destaca-se uma potencial eficácia dependente da dose na melhoria da gravidade da radiodermatite.

Glutamina e câncer: por que o aminoácido é benéfico?

Para explicar os resultados da pesquisa, os autores sugeriram possíveis mecanismos de ação que tornam a suplementação de glutamina benéfica para prevenir ou tratar a radiodermatite. São estes:

  • Propriedades anti inflamatórias
  • Diminuir a disponibilidade de radicais livres
  • Controlar a formação de óxido nítrico (NO)
  • Proliferação de linfócitos
  • Aumentar a sensibilidade à insulina 
  • Preservar a energia celular
  • Síntese de colágeno
  • Redução da proteólise
  • Facilitar a cicatrização de feridas 
  • Promover a divisão e o crescimento celular

Assim, a glutamina seria capaz de auxiliar na recuperação de tecidos em pacientes com câncer submetidos à radioterapia, mitigando seus efeitos adversos.

Contudo, vale ressaltar que o consumo crônico de grandes quantidades de glutamina (~ 40 g/d) pode levar a uma variedade de efeitos adversos nas vias bioquímicas e nas funções celulares do corpo. 

Portanto, orienta-se que profissionais de saúde tomem uma abordagem cautelosa e individualizada quanto à sua suplementação. 

O que podemos concluir?

Em suma, a relação entre glutamina e câncer parece ser benéfica. Segundo a pesquisa, a suplementação do nutriente poderia diminuir a incidência de radiodermatite, principalmente nos graus moderados a graves, no câncer de cabeça ou pescoço, e em dosagens de 20-30 g/dia. 

No entanto, conforme a limitação das pesquisas (como o pequeno tamanho das amostras), há necessidade de mais estudos de alta qualidade para comprovar a eficácia desta estratégia.

Até o momento presente, cabe a avaliação multiprofissional minuciosa para iniciar o tratamento com glutamina em pacientes com câncer, considerando seu crescente potencial.

Para ler o artigo científico completo, clique aqui.

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