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A obesidade é uma das principais preocupações de saúde pública no mundo, e em mulheres, as repercussões do excesso de peso vão além das questões metabólicas.
Mulheres com sobrepeso ou obesidade frequentemente apresentam distúrbios ovulatórios, o que pode levar à infertilidade. Esse impacto está relacionado a alterações hormonais e à disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-ovário.
Frente a esse cenário, diferentes abordagens têm sido estudadas com o objetivo de promover a perda de peso e a melhora da fertilidade por meio da restauração da ovulação. As intervenções incluem estratégias farmacológicas (como o uso de citrato de clomifeno, letrozol, metformina e agonistas do receptor GLP-1), mudanças no estilo de vida (dieta e exercícios) ou a combinação dessas terapias.
No caso da síndrome dos ovários policísticos (SOP), por exemplo, perder apenas 5% do peso corporal já pode melhorar significativamente os sintomas e o perfil hormonal.
Mas afinal, qual abordagem para perda de peso e fertilidade é mais eficaz? Embora estudos anteriores já tenham demonstrado benefícios da dieta e do exercício na ovulação, os efeitos comparativos das intervenções farmacológicas e não farmacológicas ainda não estavam totalmente claros.
Para responder a essa pergunta, um novo estudo publicado recentemente realizou uma revisão sistemática com meta-análise em rede analisou 95 ensaios clínicos randomizados com quase 10 mil mulheres com sobrepeso ou obesidade, muitas delas com SOP.
O objetivo foi avaliar qual combinação de estratégias traz os melhores resultados em três frentes fundamentais para a fertilidade: índice de massa corporal (IMC), ovulação e perfil hormonal em mulheres em idade reprodutiva com sobrepeso ou obesidade.
Para perda de peso, combinação de estratégias é a chave
Intervenções que combinam dieta com medicamentos para emagrecimento, como agonistas do receptor de GLP-1 (ex: liraglutida), orlistat ou metformina, foram as mais eficazes na redução do IMC. Quando essas abordagens foram somadas ao exercício físico, os resultados foram ainda melhores.
Em números:
- Dieta + GLP-1 RAs + exercício: redução média de −3,34 kg/m² no IMC
- Dieta + orlistat + exercício: −3,16 kg/m²
- Dieta + metformina + exercício: −2,42 kg/m²
As intervenções somente com indutores de ovulação (como o citrato de clomifeno) não impactaram significativamente o peso.
Para ovulação, a tripla abordagem também funciona melhor
A combinação de exercício, dieta e indutores de ovulação se destacou como a mais eficaz para aumentar a taxa de ovulação, com uma chance mais de 7 vezes maior de ovular em relação ao grupo controle.
Quando os indutores de ovulação foram associados à dieta e ao exercício, os resultados melhoraram ainda mais em mulheres com SOP.
Metformina, citrato de clomifeno e sua combinação foram eficazes, com resultados ampliados quando associados ao estilo de vida. Agonistas do receptor de GLP-1 mostraram tendência favorável, mas os dados ainda são limitados.
Hormônios: melhora significativa no perfil androgênico
A intervenção que combinou dieta, exercício e medicamentos para perda de peso também liderou na redução dos níveis de testosterona, um marcador importante em mulheres com SOP.
A SHBG (globulina ligadora de hormônios sexuais), outro marcador hormonal associado à fertilidade, também apresentou melhora com essas estratégias combinadas.
Agonistas do receptor de GLP-1 , metformina, orlistat e clomifeno tiveram efeitos positivos, especialmente quando combinados com intervenções de estilo de vida.
Sugere-se que a combinação de exercício, dieta e medicamentos pode aumentar significativamente os níveis de LH (hormônio luteinizante), um achado relevante para mulheres com sobrepeso/obesidade e risco de infertilidade. A metformina foi a intervenção mais eficaz na redução do estradiol.
O que podemos concluir?
Para mulheres em idade reprodutiva com sobrepeso ou obesidade, a combinação de exercícios, dieta e intervenções farmacológicas é mais eficaz do que estratégias de intervenção individuais para perda de peso e fertilidade, envolvendo o aumento da ovulação e restauração do perfil androgênico.
Embora os resultados sejam promissores, cerca de metade dos estudos apresentaram algum risco de viés, principalmente por falhas na descrição de randomização e cegamento. Ainda assim, os autores relatam que as análises mostraram consistência e coerência nos dados avaliados, e são clinicamente importantes para a tomada de decisão compartilhada em mulheres com sobrepeso ou obesidade que desejam engravidar.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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Referência:
Ruiz-González D, Cavero-Redondo I, Hernández-Martínez A, Baena-Raya A, Martínez-Forte S, Altmäe S, Fernández-Alonso AM, Soriano-Maldonado A. Comparative efficacy of exercise, diet and/or pharmacological interventions on BMI, ovulation, and hormonal profile in reproductive-aged women with overweight or obesity: a systematic review and network meta-analysis. Hum Reprod Update. 2024 Jul 1;30(4):472-487. doi: 10.1093/humupd/dmae008. PMID: 38627233; PMCID: PMC11215161.