A síndrome do intestino curto (SIC) é um distúrbio de má absorção do trato gastrointestinal relacionado a condições de doença inflamatória intestinal, câncer, isquemia mesentérica ou falência intestinal (FI). Muitos desses pacientes se tornam dependentes da nutrição parenteral (NP) para sobreviver, contudo, apesar de salvar vidas, a NP também está associada a complicações que afetam negativamente a qualidade de vida e risco aumentado de morte nesses pacientes.
A teduglutida é um análogo do GLP-2 com propriedades intestinotróficas, as quais podem reduzir ou eliminar a dependência exclusiva de NP em pacientes com síndrome do intestino curto e falência intestinal crônica (SIC-FI).
O estudo STEPS (ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, multicêntrico, de fase 3), investigou o efeito da suplementação de teduglutida, por 24 semanas, em pacientes com SIC em dependência de NP. Foram analisados a NP basal (administrada previamente ao início do estudo), necessidade de volume parenteral, etiologia da doença e anatomia intestinal. Modelos estatísticos foram ajustados para avaliar o impacto da teduglutida na qualidade de vida de pacientes com SIC‐FI em dependência de NP (escore SIC-QV), utilizando dados de todas as visitas, ajustados para as características basais dos pacientes.
Do total de 86 pacientes, 43 cada foram randomizados para receber teduglutida e 43 para receber uma suplementação placebo (idade média: 51 vs 50 anos, respectivamente). Nos dois braços tinham numericamente mais mulheres do que homens. Os pacientes do grupo teduglutida tinham uma porcentagem significativamente menor de cólon remanescente (média [SD] 55,8 [20,4] vs 70,3 [27,1], respectivamente; P = 0,021), e menos pacientes tinham a válvula ileocecal (7,0% vs 23,3%, respectivamente; P = 0,035), em comparação com o grupo placebo. Mais da metade dos pacientes em ambos grupos apresentaram continuidade do cólon (teduglutida: 60,5%, placebo: 53,5%; P = 0,514).
De acordo com as análises estatísticas ajustadas, em geral os pacientes tratados com a teduglutida apresentaram melhores pontuações no questionário SIC-QV (- 8,6; IC 95%: 2,6 a 19,8), desde o início do estudo até a 24° semana, em comparação com aqueles do grupo placebo. Contudo, apesar de maior redução numérica, essa diferença não foi estatisticamente significativa.
Quando a população estudada foi dividida em subgrupos, foi observado uma melhora significativa da teduglutida no escore de qualidade de vida SIC-QV de pacientes com ≥50% do cólon remanescente (diferença média −21,9; P = 0,037). Também foi observado que a teduglutida apresentou melhores resultados da SIC-QV em 2 diferentes subgrupos: grupo com maior volume de NP basal (-27,3, IC de 95%: -50,8 a -3,7) e grupo de doentes portadores de doença inflamatória intestinal (-29,6, IC 95%: -46,3 a -12,9), porém sem significância estatística nesses 2 subgrupos em comparação com o placebo.
Os autores concluíram que o uso da teduglutida parece melhorar a qualidade de vida de pacientes com SIC em uso de NP, principalmente nos subgrupos de doentes com maior necessidade de volume de NP e portadores de DII.