Dieta enteral para dieta oral: como a transição está sendo realizada?

Dieta enteral para dieta oral: como a transição está sendo realizada?

dieta enteral para dieta oral
Fonte: Canva

Na UTI, 49% dos pacientes recebem nutrição enteral com duração média de 15 dias. Após esse período, as sondas são removidas ainda na UTI ou logo após a alta, visando a transição da dieta enteral para dieta oral.

Entretanto, muitos sintomas dificultam a alimentação oral na UTI, como náuseas, vômitos, disfagia, e alterações da consciência. Infelizmente, as diretrizes internacionais não fornecem recomendações específicas sobre esse processo de transição, nem sobre seu momento ideal.

Recentemente, uma revisão de escopo com 6 estudos visou resumir o estado atual da pesquisa sobre o processo de transição da dieta enteral para dieta oral, em pacientes de UTI e pós-UTI. Os autores buscaram entender o impacto da transição nas necessidades energéticas e proteicos, e no estado nutricional dos pacientes.

A seguir, confira os principais insights desta investigação.

Quais os benefícios e danos da transição de nutrição enteral para alimentação oral?

Benefícios 

Fisiológicos:

  • Estimula processos digestivos normais, incluindo salivação, motilidade gástrica e secreção de enzimas.
  • Ajuda a manter a integridade da mucosa intestinal e a saúde da microbiota.

Qualidade de vida:

  • Devolve o prazer e os aspectos sociais da alimentação.
  • Elimina o desconforto potencial das sondas de alimentação.
  • Aumenta a autonomia e a autoestima do paciente.

Clínicos:

  • Reduz o risco de complicações potenciais relacionadas à sonda (ex.: úlceras, deslocamento, obstrução).
  • Pode melhorar a função de deglutição por meio da prática da ingestão oral.

Redução de custos:

  • Diminui a necessidade de suprimentos médicos e de fórmulas para sonda de alimentação.

Riscos 

Riscos nutricionais:

  • Possível ingestão inadequada de calorias e proteínas durante e após a transição.
  • Risco de perda de peso e desnutrição se a ingestão oral for insuficiente.
  • Possíveis lacunas de micronutrientes se a variedade alimentar for limitada (ex.: dieta de consistência modificada).

Preocupações com segurança:

  • Risco de aspiração se a função de deglutição estiver comprometida (disfagia).
  • Potencial de desnutrição.

Psicológicos:

  • Ansiedade e medo de comer (ex.: medo de falhar, medo de engasgar).
  • Perda de confiança e frustração se a ingestão oral for difícil.
  • Pressão para atingir metas nutricionais apenas pela via oral.

Dieta enteral para oral: adequação energética e proteica

Um estudo prospectivo de coorte observacional (PROSPECT-1), com 41 pacientes, revelou um declínio significativo na ingestão nutricional após a remoção da sonda de alimentação nos primeiros dias pós-alta da UTI.

A adequação de energia caiu de 97,3% para 65% e a de proteína de 91,5% para 60,6% dos valores-alvo no primeiro dia após a remoção da sonda.

Pacientes que dependiam exclusivamente da alimentação oral apresentaram a menor ingestão nutricional, enquanto aqueles com suporte de nutrição enteral (EN) demonstraram a maior adequação.

Os autores do estudo notaram que a remoção prematura da sonda representa um risco para o estado nutricional do paciente.

No entanto, o estudo não forneceu informações detalhadas sobre o tipo de dieta oral usada antes e depois da remoção da sonda (por exemplo, dietas com textura modificada ou enriquecidas com energia e proteína).

Em adição, uma revisão sistemática constatou que pacientes pós-UTI que receberam NE ou uma combinação de dieta oral e enteral alcançaram a melhor adequação de energia e proteína.

Perspectiva dos profissionais de saúde e processo de decisão

Cinco estudos exploraram as experiências de profissionais de saúde (enfermeiros e médicos) e o processo de tomada de decisão para a remoção das sondas de alimentação.

A remoção da sonda é frequentemente um objetivo principal para enfermeiros e médicos na enfermaria, que buscam fazer com que os pacientes voltem à “normalidade” o mais rápido possível.

Nesse sentido, a reinserção de uma sonda é vista como um revés no processo de recuperação.

Muitas vezes, a remoção da sonda ocorre sem uma avaliação formal da ingestão de energia e proteína por um nutricionista, e a decisão é baseada em políticas hospitalares ou opiniões pessoais dos profissionais, e não na capacidade real do paciente de suprir suas necessidades nutricionais por via oral.

A falta de conhecimento sobre as necessidades nutricionais de pacientes pós-UTI contribui para a remoção prematura da sonda.

O que podemos concluir?

Como visto, a ingestão de energia e proteína cai significativamente após a remoção da sonda de alimentação, principalmente em pacientes que dependem apenas da via oral. 

A decisão de retirar a sonda muitas vezes segue políticas institucionais ou opiniões de profissionais, e não a avaliação nutricional do paciente. Isso evidencia a necessidade de acompanhamento individualizado e de pesquisas que orientem práticas seguras para a transição da nutrição enteral para a oral.

Para ler o artigo científico completo, clique aqui.

Referência:

Vinci G, Yakovenko N, De Waele E, Stocker R. Transition from Enteral to Oral Nutrition in Intensive Care and Post Intensive Care Patients: A Scoping Review. Nutrients. 2025 May 24;17(11):1780. doi: 10.3390/nu17111780. PMID: 40507051; PMCID: PMC12157970.

Pós-graduação de Nutrição Clínica

Compartilhe este post