O exercício físico é recomendado por grandes organizações de saúde como parte importante do tratamento da obesidade. Apesar de seus inúmeros benefícios, ainda existem muitas dúvidas quanto ao seu efeito metabólico direto, e isso faz com que muitas pessoas não entendam o papel do exercício físico na perda de peso.
Apesar de impactar o balanço energético diário, o exercício físico não é o único componente do gasto energético. Particularmente na perda de peso, é preciso considerar adaptações naturais, que ocorrem para preservar o ponto de equilíbrio corporal (set point). Nesse sentido, a perda de peso torna-se um desafio à medida que progride, ao enfrentar resistências naturais impostas por fatores como aumento da fome e diminuição da taxa metabólica de repouso. Ao considerar que o exercício aumenta o gasto de energia, muitas pessoas acreditam que podem fazer compensações dietéticas, e isso compromete o déficit calórico necessário para gerar uma perda sustentada de peso.
Para estudar essas compensações energéticas, um grupo de pesquisadores analisou a relação entre três modelos de gasto de energia e suas previsões mutuamente exclusivas. Gasto energético total, gasto energético de atividade física e gasto energético basal foram considerados para indivíduos com estilos de vida normais e sem restrições alimentares.
Um total de 1.754 pacientes adultos maiores de 18 anos foram incluídos no estudo. Foram excluídos indivíduos submetidos a atividades físicas intensas (como treinamento esportivo profissional), e aqueles que estavam doentes ou em estado de gravidez ou amamentação. Os dados foram coletados de forma pareada, diretamente do banco de dados International Atomic Energy Agency DLW e os resultados foram ajustados de acordo com o controle de idade, sexo e composição corporal.
O gasto energético total foi determinado por método de isótopos estáveis (análise de água duplamente marcada) e o gasto energético basal foi determinado por calorimetria indireta. O gasto energético da atividade física foi calculado como 0,9 x gasto energético total – gasto energético basal, assumindo que o efeito térmico dos alimentos é responsável por 10% do valor total de energia. O nível médio (± DP) de atividade física (NAF = gasto energético total / basal) foi de 1,74 ± 0,27 (intervalo: 0,76 – 3,30) e 90% das observações situaram-se entre 1,35 e 2,18 NAF (5º e 95º quartis).
Os resultados indicam que um grau considerável (27,7%) de compensação ocorreu entre os componentes ativo e basal do gasto de energia. Isso significa que humanos que vivem vidas modernas típicas (não realizando níveis excepcionais de atividade ou experimentando escassez crônica de alimentos) exibem uma compensação bastante forte entre a energia que gastam em atividade e aquela gasta em processos metabólicos basais.
Em longo prazo, mais de um quarto das calorias extras queimadas durante a atividade não se traduzem em calorias extras gastas naquele dia.
Presumivelmente, tal compensação teria sido adaptativa para nossos ancestrais, mas na vida moderna as demandas de energia alimentar foram amplamente modificadas.
Careau V, Halsey LG, Pontzer H, et al. Energy compensation and adiposity in humans. Curr Biol. 2021 Aug 26:S0960-9822(21)01120-9.