A determinação das necessidades energético-proteicas de pacientes críticos ainda pode ser considerada um tema que merece investigação. Ao considerar o impacto da nutrição na melhora clínica do paciente, diversas organizações recomendam oferecer redução de calorias na fase aguda e maior oferta de proteínas na fase tardia.
Para avaliar o efeito de altas doses de proteína na reabilitação de pacientes críticos, um estudo recente comparou o efeito de quantidades distintas de proteína para um teor padronizado de calorias. A pesquisa incluiu pacientes críticos, com mais de 20 anos de idade, em uso de nutrição enteral, com sobrevida e expectativa de permanência na UTI superior a 10 dias. Os pacientes foram randomizados em grupos com alta quantidade de proteínas (1,8g/kg/dia) e moderada quantidade de proteínas (0,9g/kg/dia) na dieta. Ambos os grupos receberam 20kcal/kg de peso ou, se desnutridos, 30kcal/kg de peso. A terapia nutricional (TN) teve início precoce (<48h da admissão na UTI), e sua evolução foi gradativa até o alcance das necessidades nutricionais calculadas para cada indivíduo. Na possibilidade de alimentação via oral, as mesmas quantidades de calorias e proteínas foram oferecidas por essa via. Os pacientes foram submetidos a reabilitação física praticada por fisioterapeutas no segundo dia de internação.
A nutrição parenteral foi utilizada quando as necessidades nutricionais não foram completamente atingidas em 3 dias. As variáveis analisadas no estudo incluíram: volume muscular femoral por tomografia computadorizada no dia 01 e no dia 10 da intervenção, escore de funcionalidade, escore de qualidade de vida, taxa de sobrevida em 28 dias, tempo de internação na UTI, tempo de ventilação mecânica, ocorrência de pneumonia, tempo de dieta enteral, eventos adversos relacionados a TN, entre outros.
Um total de 117 pacientes foram incluídos, sendo 60 para o grupo alta proteína e 57 para o grupo proteína moderada. A idade média dos pacientes foi de 68 anos e o IMC médio foi de 22kg/m2. Cerca de 24% dos pacientes foram classificados como desnutridos e permaneceram em média 8 dias com nutrição enteral, em ambos os grupos. Houve redução do volume muscular femoral entre o dia 01 e o dia 10, de 484 mL no grupo alta proteína e de 672 mL no grupo que recebeu dose moderada de proteína. Essa redução foi considerada significativa (p<0,0001). A perda de volume muscular foi de 13,3% no grupo que recebeu alta proteína e 17,5% no grupo que recebeu dose moderada de proteína (p=0,012). Não foram encontradas diferenças na taxa de sobrevida, tempo de internação na UTI ou hospital, duração da ventilação mecânica, pneumonia ou eventos adversos relacionados a TN.
Nesse sentido, os autores concluíram que em um contexto de reabilitação física de pacientes críticos, a oferta de alta quantidade de proteína (1,8g/kg/dia) na fase aguda pode promover mais benefícios na manutenção da massa muscular, quando comparado a oferta de média quantidade de proteínas (0,9g/
Referência: Nakamura K et al. High protein versus medium protein delivery under equal total energy delivery in critical care: A randomized controlled trial. Clin Nutr. 2021;40(3):796-803.