A incidência de diabetes mellitus gestacional (DMG) está crescendo paralelamente ao aumento do sobrepeso e obesidade populacional, estando associado à maior ocorrência de complicações como pré-eclâmpsia, parto por cesariana, aumento do crescimento fetal e hipoglicemia neonatal. A composição da microbiota intestinal também tem sido associada a alterações metabólicas, incluindo DMG e, visto que as gestantes passam por importante mudança do microbioma, Callaway e colaboradores investigaram se a suplementação de probióticos administrada a partir do segundo trimestre em gestantes com sobrepeso e obesidade impediria o desenvolvimento do DMG.
O estudo controlado randomizado, duplo-cego, selecionou 411 grávidas com sobrepeso e obesidade que foram divididas em grupo probiótico (n= 207) versus placebo (n=204), em Brisbane, na Austrália. A composição dos probióticos consistia em uma mistura de Lactobacillus rhamnosus (LGG) e subespécie lactiforme de Bifidobacterium animalis (BB-12, com uma dose >1 × 10 9 UFC por dia, ou placebo combinado (cápsulas de celulose microcristalina e anidrato de dextrose). As cápsulas deveriam ser tomadas uma vez ao dia, desde a inscrição no estudo até o nascimento do bebê. A taxa de adesão ao tratamento foi de 90%. O diagnóstico de DMG foi feito com 28 semanas de gestação, após teste de tolerância oral a glicose (75g de glicose), como recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O grupo de pesquisadores observou resultados contrários àqueles esperados. O grupo probiótico apresentou maior ocorrência de DMG (18,4%) e maior glicemia de jejum (79,3mg/dL) do que o grupo placebo (12,3% de DMG e 77,5mg/dL, respectivamente) (p=0,10). Com relação a outros desfechos, em comparação ao grupo placebo, o grupo probiótico também apresentou maior frequência de pré-eclâmpsia (p=0,09), já o ganho de peso em excesso ocorreu em 32,5% das mulheres do grupo probióticos e em 46% das mulheres do grupo placebo (p=0,01). Avaliando-se os neonatos, 6,5% das crianças do grupo placebo nasceram pequenas para a idade gestacional (PIG), enquanto que no grupo probiótico isso ocorrem em apenas 2,4% das crianças (p=0,042). Não houve resultados estatisticamente significativos para outras variáveis.
Com isso, os pesquisadores concluíram que a suplementação diária de probióticos contendo uma dose >1×10 9 UFC de LGG e BB-12 não reduziu a ocorrência de DMG, tão pouco a ocorrência de outros desfechos negativos como a ocorrência de pré-eclâmpsia e que, portanto, sua utilização não deve ser indicada com o objetivo de prevenir a DMG em mulheres adultas.
Referência: CALLAWAY, Leonie K. et al. Probiotics for the Prevention of Gestational Diabetes Mellitus in Overweight and Obese Women: Findings From the SPRING Double-blind Randomized Controlled Trial. Diabetes Care, 2019; 1-8. American Diabetes Association.