A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é um distúrbio funcional no qual dor e desconforto abdominais estão associados a hábitos intestinais irregulares sem evidência de processos inflamatório, anatômico, metabólico ou neoplásico. É caracterizada de acordo com o funcionamento intestinal levando em consideração a percepção do próprio paciente. Sua ocorrência afeta diretamente a qualidade de vida do portador, portanto o tratamento adequado é fundamental na melhora dos sintomas da SII. O tratamento não farmacológico inclui intervenções no estilo de vida, atividade física regular, terapia psicológica e medidas dietéticas. Recomenda-se a restrição de alimentos ricos em FODMAPs (oligossacarídeos fermentáveis, dissacarídeos monossacarídeos e polióis) com objetivo de diminuir os sintomas gastrointestinais. Na fase de reintrodução alimentar, é preciso encontrar um equilíbrio entre alimentos com maior teor de FODMAPs e o controle dos sintomas da SII.
Recentemente, pesquisadores europeus investigaram os fatores que interferem na adesão em longo prazo da dieta baixa em FODMAPs, bem como o seu impacto na qualidade de vida, sintomas de SII e evolução da doença em longo prazo. Foi realizado um estudo transversal retrospectivo com 90 indivíduos com SII que responderam a um questionário cientificamente validado para obter as informações propostas pelo estudo. Todos participantes foram acompanhados pela nutricionista; o tempo médio entre a primeira consulta dietética e a conclusão dos questionários foi de aproximadamente 2 anos.
Na população do estudo, o curso da doença predominante foi SII de intensidade leve. Em torno de 80% dos participantes relataram aderir a dieta com baixo teor de FODMAPs.
Os resultados mostram que não houve diferença significativa no curso da doença entre os que seguiram ou não a dieta (p = 0,669). Porém, quanto mais vezes o paciente se distanciava da dieta, mais crônica a doença era classificada (caracterização pelos sintomas relatados). Pacientes que tiveram maior aderência a dieta baixa em FODMAPs apresentaram dor abdominal menos intensa do que os que pararam de seguir a dieta (p = 0,044).
Dentre as principais queixas para abandonar a dieta estavam não percepção de melhora dos sintomas, dificuldade de aplicabilidade na rotina, alimentação fora de casa e informação suficiente para saber o que poderia ou não ser ingerido. Também não teve diferença significativa quando se avaliou mudança na qualidade de vida. Os autores discutem que apesar de dois anos de acompanhamento feito neste estudo, os resultados obtidos com relação a qualidade de vida foram parecidos com estudos a curto a prazo. Outro dado interessante é que os pacientes que abandonavam a dieta, também abandonavam o acompanhamento com nutricionista.
Os pesquisadores concluíram que a dieta baixa em FODMAPs foi associada com menores queixas de dor abdominal. A menor adesão dietética foi associada com questões práticas, fatores sociais e ausência de sintomas. Portanto, é importante que nutricionista busque entender o (s) motivo (s) que levam o paciente a ter menor aderência dietética afim de buscar intervenções que contribuem para o tratamento nutricional e remissão dos sintomas da SII.