A falência intestinal (FI) e o transplante intestinal (ITx) estão associados à má qualidade de vida. A avaliação específica da doença na qualidade de vida (QV) de portadores de FI e de sujeitos transplantados é bastante desafiadora, devido a limitações metodológicas, instrumentos de análise e outros problemas frequentemente encontrados. Recentemente, um estudo comparou a qualidade de vida de pacientes nos períodos de pré e pós ITx; e versus não transplantados.
Para essa investigação, foi realizada uma análise prospectiva de dois bancos de dados de grupo de pacientes submetidos ao transplante intestinal e um grupo de pacientes com FI crônica estável, que não necessitava de transplante intestinal. Os questionários utilizados para avaliação da QV foram modelos padrões (EQ-5D-5L e SF36) e modelos específicos para a doença intestinal (HPN-QOL e ITx-QOL). Os dados foram coletados pré e pós-ITx e nos períodos de 3, 6, 12 meses e a cada ano. A análise estatística desses dados utilizou o teste t de Student e ANOVA unidirecional com correção de Bonferroni para múltiplas comparações.
Resultados mostraram que em todos os questionários padrões, a qualidade de vida melhorou após o transplante intestinal em níveis comparáveis com a QV do grupo de pacientes com FI que não necessitam de transplante. Tanto o componente visual analógico de pontuação (EQ-5D-5L) quanto o efeito da doença na QV (HPN-QOL / ITx-QOL) foi maior após ITx do que no pré-ITx ou quando comparado com o grupo de FI.
Os efeitos sobre a saúde geral, capacidade de comer e beber, de realizar viagens melhoraram após 3 meses de realização do ITx. Outros quesitos avaliados nos questionários de QV não mostraram melhora nos primeiros 12 meses após o ITx, mas também não pioraram, sendo mantidos por pelo menos 24 meses. Os pacientes que realizaram transplante apresentaram maiores dificuldades de caráter financeiro do que o grupo sem ITx, mesmo realizando tratamento em um sistema de saúde com financiamento público.
Diante disso, os autores concluíram que o ITx tem efeito benéfico na qualidade de vida. A QV após o ITx é similar aos pacientes com FI que não necessitam de ITx. A criação de um instrumento de QV que avalia a jornada do período de FI ao ITx ajudaria na análise longitudinal e individualizada do impacto do ITx.
Por: Maria Carolina Gonçalves Dias