A Nutrição parenteral (NP) é a provisão de nutrientes e eletrólitos para pacientes desnutridos ou em alto risco de desnutrir que apresentam uma insuficiência intestinal anatômica ou funcional. Contudo, o uso da NP a longo prazo pode acarretar risco progressivo para desenvolvimento de doenças hepáticas associadas à falência intestinal (do inglês, IFALD). Nesse cenário, pesquisas têm mostrado que o microbioma intestinal desempenha um papel crucial no desenvolvimento intestinal, função imunológica e absorção de nutrientes; e recentemente foi levantada a hipótese de que o desequilíbrio da microbiota (disbiose) poderia favorecer a patogênese da doença hepática associada à insuficiência intestinal.
Uma pesquisa americana recente estudou o efeito da suplementação de probióticos na prevalência da IFALD em pacientes adultos com insuficiência intestinal em uso de NP. Foram revisados retrospectivamente prontuários eletrônicos e gráficos de pacientes com insuficiência intestinal que apresentavam valores basais normais nos testes de função hepática e que receberam NP ou hidratação intravenosa (HIV) por > 2 semanas em um centro de atendimento terciário.
Inicialmente o total de 403 pacientes foram selecionados, destes, 282 pacientes foram incluídos, sendo 69% do sexo feminino, com idade média de 51 anos. Setenta e oito pacientes (28%) fizeram uso de probióticos com diferentes cepas de lactobacilos e bifidobactérias e 86% receberam NP, enquanto os demais receberam HIV. A Síndrome do Intestino Curto (SIC) foi responsável por 51% das indicações de NP, seguida por má absorção (24%) e dismotilidade intestinal (15%).
Quarenta e nove por cento dos pacientes desenvolveram IFALD, sendo que 25% destes tinham a doença de Crohn como diagnóstico associado, seguido de doença isquêmica intestinal (17%) e obesidade mórbida com história de bypass gástrico (12%). Pacientes com IFALD tiveram maior uso de NP (96% vs 76%, P <0,01), entre eles também era encontrada a maior prevalência de SIC (63% vs 40%, P <0,01), maior prevalência de dismotilidade intestinal (10% vs 5%, P = 0,01), menor uso de probióticos (20% vs 35%, P = 0,01) e menor ingestão calórica média diária (1058 kcal [IQR 433-1539] vs 1483 kcal [IQR 1087-1801], P <0,01) quando comparado com o grupo de pacientes não IFALD.
A prevalência de IFALD em pacientes que usaram probióticos foi de 35,9% vs 54,4% em pacientes que não usaram probióticos, P = 0,005. Na análise multivariável, apenas o comprimento do intestino delgado de 10-89 cm e o uso de NP mostraram um impacto significativo na IFALD, odds ratio (OR) = 4,394 (intervalo de confiança de 95% [IC], 1,635-11,814; P = 0,003) e OR = 4,502 (IC95% 1,412-14,351; P = 0,011), respectivamente.
Os autores concluíram que a prevalência de IFALD foi comparável entre os pacientes que utilizaram e não utilizaram probióticos; e que embora tenha sido observada uma melhora clínica entre os pacientes que utilizaram probióticos, apenas o comprimento do intestino delgado de 10-90 cm e o uso de NP mostraram um impacto significativo na IFALD.
Por: Patricia Morais