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O aumento de doenças como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e alergias tem levado cientistas a investigar a fundo a relação entre a alimentação, a microbiota intestinal e o sistema imunológico.
Sabe-se que uma dieta desequilibrada e rica em calorias pode alterar o ecossistema da microbiota intestinal e comprometer a imunidade intestinal, desencadeando inflamação sistêmica de baixo grau, conhecida como meta-inflamação.
Em um recente editorial publicado na revista científica Nutrients, os autores apresentam uma visão integrada de estudos pré-clínicos e clínicos que investigam como nutrientes e nutracêuticos modulam a microbiota, influenciam a imunidade local e exercem efeitos em tecidos distantes, com impacto em desfechos de doenças crônicas.
A seguir, confira os achados mais relevantes.
Como a alimentação influencia a microbiota intestinal e seus desfechos?
Protocolos alimentares, incluindo jejum intermitente, restrição calórica e dietas de eliminação, desempenham um papel fundamental na formação da interação entre a microbiota intestinal e o sistema imunológico, com implicações significativas para a saúde e a doença ao longo da vida, incluindo distúrbios cardiometabólicos, infecciosos e autoimunes.
Impactos do jejum na microbiota intestinal
Um estudo incluído no editorial, com homens adultos que fizeram um jejum de 10 dias, mostrou que essa prática alterou drasticamente a composição de sua microbiota, aumentando o filo Proteobacteria em 6 vezes, enquanto diminuiu o filo Bacteroidetes em cerca de 50% e o de Firmicutes em 34%.
Curiosamente, foi observado um aumento na Ruthenibacterium lactatiformans, uma bactéria que, em estudos com animais, se mostrou capaz de combater a obesidade induzida por dieta rica em gordura, a intolerância à glicose, a dislipidemia e a disfunção da barreira intestinal. Essa descoberta aponta o jejum como uma possível ferramenta para modular a saúde intestinal e metabólica.
Influência de dietas e nutrientes específicos
Em uma revisão de estudos científicos, enfatizou-se como os padrões alimentares influenciam significativamente a composição da microbiota intestinal, o que, por sua vez, afeta a saúde metabólica e o risco de obesidade.
Os achados englobaram:
– Dietas ricas em gordura e açúcar estão associadas à redução da diversidade microbiana e ao aumento de bactérias pró-inflamatórias, contribuindo para distúrbios metabólicos.
– O excesso de gorduras saturadas pode perturbar o equilíbrio microbiano intestinal, desencadeando disbiose intestinal e impulsionando a reprogramação metabólica das células imunes, contribuindo, em última análise, para a metainflamação.
– Dietas ricas em fibras e amido resistente, como a dieta mediterrânea, promovem uma microbiota diversa e equilibrada, aprimorando as funções metabólicas e reduzindo a inflamação.
– Ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) derivados de fibras alimentares e da suplementação com polifenóis apresentam potentes propriedades imunomoduladoras e anti-inflamatórias.
Moduladores da microbiota intestinal: resultados em COVID-19 e fibromialgia
Moduladores da microbiota intestinal, como prebióticos, probióticos e simbióticos (uma combinação de prebióticos e probióticos), podem modular mecanismos celulares essenciais que impactam significativamente a progressão de doenças inflamatórias crônicas imunomediadas.
Um estudo piloto randomizado e controlado revelou alterações significativas e duradouras nos aspectos clínicos, do microbioma, do metabolismo e do sistema imunológico do eixo intestino-pulmão em pacientes em recuperação de COVID-19 grave. Os participantes apresentaram menor riqueza microbiana, que foi significativamente melhorada pela intervenção probiótica.
Em outra investigação de 30 dias com 15 pacientes com fibromialgia, metade apresentaram síndrome da fadiga crônica. Os resultados indicaram que a suplementação com simbióticos reduziu significativamente os níveis percebidos de estresse, ansiedade e depressão, ao mesmo tempo em que melhorou a qualidade de vida nas atividades diárias.
Além disso, a ingestão de simbióticos levou à ativação fisiológica do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), evidenciada pela liberação normalizada de cortisol, que, por sua vez, pode neutralizar a inflamação basal elevada.
Conclusão
Em conjunto, os estudos destacaram o papel crucial da dieta na microbiota intestinal e na função imunológica em diferentes aspectos e condições de saúde.
As evidências ressaltam a importância de alinhar recomendações nutricionais ao perfil individual da microbiota e às variáveis genéticas, abrindo caminho para diretrizes personalizadas que visem prevenir e gerir doenças crônicas.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
Referência:
Reis F, Ferreira LMR, Ortega E, Viana S. Nutrition and Gut Microbiota-Immune System Interplay in Chronic Diseases. Nutrients. 2025 Apr 11;17(8):1330. doi: 10.3390/nu17081330. PMID: 40284195; PMCID: PMC12030219.
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Reis F, Ferreira LMR, Ortega E, Viana S. Nutrition and Gut Microbiota–Immune System Interplay in Chronic Diseases. Nutrients. 2025;17(8):1330. https://doi.org/10.3390/nu17081330