Síndrome de realimentação: diretriz desvenda identificação de risco e diagnóstico

Síndrome de realimentação: diretriz desvenda identificação de risco e diagnóstico

síndrome de realimentação
Fonte: Canva


A síndrome de realimentação (SR) é um conjunto de sinais e sintomas potencialmente fatais, causados ​​por distúrbios metabólicos e eletrolíticos, principalmente a hipofosfatemia, que ocorrem com a reintrodução de nutrição em um indivíduo exposto à desnutrição.

Como a síndrome de realimentação é uma condição complexa, ferramentas de identificação de risco e critérios diagnósticos validados ainda não foram estabelecidos.

As ferramentas de triagem do National Institute for Health Care and Excellence e da American Society for Parenteral and Enteral Nutrition apresentam baixa sensibilidade e especificidade, além de serem imprecisas. 

Ademais, o uso exclusivo da hipofosfatemia como estratégia de identificação de risco pode levar à identificação falsa e imprecisão, devido às inúmeras outras causas da diminuição do nível sérico de fosfato. 

Recentemente, a AuSPEN (The Australasian Society of Parenteral and Enteral Nutrition) reuniu 19 clínicos especialistas, da Austrália e Nova Zelândia, para estabelecer recomendações de diagnóstico e tratamento da SR. A seguir, conheça os pontos chaves.

Como identificar pacientes em risco de síndrome de realimentação?

Equipe de enfermagem, nutricionistas e médicos devem estar envolvidos na identificação do risco de síndrome de realimentação.

Os pacientes devem apresentar pelo menos dois dos seguintes sintomas para serem considerados em risco de síndrome de realimentação (com julgamento clínico sobre outras condições):

  1. Perda de peso não intencional de mais de 10% do peso corporal nos últimos 3 meses OU diagnóstico de desnutrição moderada a grave com base em ferramentas validadas;
  2. Jejum ou ingestão nutricional limitada por ≥ 7 dias;
  3. Consumo problemático de álcool;
  4. Perdas gastrointestinais, conforme as definições da OMS de diarreia ou vômito.

Quais são os grupos populacionais com maior risco de síndrome de realimentação?

Confira na tabela abaixo os grupos de pacientes mais propensos a desenvolver SR.

Por desnutrição prolongada ou jejum Condições que podem causar má absorção ou má digestão de nutrientes
  • Quimioterapia
  • Jejum prolongado para cirurgia ou devido a complicações pós-operatórias
  • Transtorno(s) alimentar(es) 
  • Disfagia
  • Greve de fome intencional
  • Uso crônico de álcool e/ou outras drogas
  • Insegurança alimentar
  • Síndrome do intestino curto
  • Doença de Crohn
  • Fibrose cística
  • Estenose ou obstrução intestinal
  • Hiperêmese gravídica
  • Insuficiência pancreática
  • Doença celíaca não tratada ou não diagnosticada
  • Dismotilidade esofágica ou gástrica, incluindo acalasia

Como diagnosticar síndrome de realimentação?

Médicos, em consulta com nutricionistas, são responsáveis ​​pelo diagnóstico da síndrome de realimentação.

Para receber o diagnóstico de SR, espera-se que os pacientes atendam a todos os critérios descritos na tabela.

Critérios diagnósticos Definição
Provisão nutricional 1) Paciente atendendo a pelo menos 50% das necessidades nutricionais estimadas em um período de 24h.
Desequilíbrio eletrolítico 2) Redução de 30% nos níveis séricos de fosfato em relação ao valor basal nas primeiras 72h após atingir pelo menos 50% das necessidades nutricionais estimadas, sem outra causa.

3) Níveis de potássio e magnésio também podem diminuir à medida que o paciente apresenta SR. No entanto, não há evidências suficientes para quantificar essa redução.

*Avaliar todo o quadro clínico, incluindo condições médicas subjacentes, como desequilíbrio ácido-base, e terapias como a terapia de substituição renal, ao interpretar as alterações eletrolíticas.

Sintomas clínicos 4) Sinais e sintomas provenientes de desequilíbrio eletrolítico (hipofosfatemia, hipocalemia, hipomagnesemia, deficiência de tiamina, retenção de sódio).

*A equipe médica ou cirúrgica irá determinar se esses sinais estão relacionados ao desequilíbrio eletrolítico após a provisão nutricional, em vez de a uma complicação médica/cirúrgica preexistente ou comorbidade.

Suplementação profilática na síndrome de realimentação

Tiamina

A suplementação de tiamina é recomendada antes do início da ingestão nutricional e continuada pelos primeiros 7 a 10 dias para reduzir o risco de síndrome de realimentação, com dosagem de acordo com o julgamento clínico da equipe médica.

A suplementação intravenosa pode ser na ordem de 100 mg, enquanto a suplementação oral se dá no valor de 100 a 300 mg/dia.

Multivitamínicos

Recomenda-se a suplementação multivitamínica por 10 dias após o início do suporte nutricional

Contudo, não há evidências específicas de que um multivitamínico reduza o risco ou a gravidade da síndrome de realimentação. Isso é incluído como recomendação, visto que todos os estudos incluíram multivitamínicos em seus protocolos. 

A suplementação também pode ser oral ou intravenosa, seguindo as doses diárias recomendadas.

Como fornecer a nutrição em pacientes com risco de SR?

Para pacientes com risco de síndrome de realimentação, iniciar a nutrição com ≥ 50% das necessidades energéticas estimadas, desde que haja monitoramento clínico e eletrolítico rigoroso e suplementação concomitante, conforme necessário.

Os pacientes devem atingir as necessidades energéticas desejadas dentro de 24 a 72 horas após o início, desde que haja monitoramento médico disponível.

Em casos de desequilíbrio eletrolítico grave (redução > 30% em relação ao valor basal e fora da faixa normal), recomenda-se que os eletrólitos séricos sejam monitorados e repostos,  até atingirem a estabilidade, antes de progredir em direção ao fornecimento nutricional desejado.

Leia a diretriz completa

No documento completo, os autores descrevem os sinais e sintomas de cada distúrbio eletrolítico, além de um sumário das evidências para cada recomendação.

Clique aqui para acessar o guideline.

Se você gostou deste conteúdo, leia também:

Cursos que podem te interessar:

Referência:

Matthews-Rensch K, Blackwood K, Lawlis D, Breik L, McLean C, Nguyen T, Phillips S, Small K, Stewart T, Thatcher A, Venkat L, Brodie E, Cleeve B, Diamond L, Ng MY, Small A, Viner Smith E, Asrani V. The Australasian Society of Parenteral and Enteral Nutrition: Consensus statements on refeeding syndrome. Nutr Diet. 2025 Apr;82(2):128-142. doi: 10.1111/1747-0080.70003. Epub 2025 Mar 16. PMID: 40090863; PMCID: PMC11973624.

Pós-graduação de Nutrição Clínica

Compartilhe este post