Ter um estilo de vida saudável durante a gravidez, com atividade física regular e hábitos alimentares saudáveis é essencial para proteger a saúde das mulheres e promover o nascimento de um bebê também saudável, sobretudo em casos de fertilização in vitro (FIV). Gestações por FIV parecem ter maior risco de complicações, como diabetes mellitus gestacional (DMG), pré-eclâmpsia (PE) e parto precoce, além de maior risco de complicações fetais, como macrossomia fetal, hipoglicemia e níveis elevados de bilirrubina neonatal.
Um estudo recente avaliou os efeitos de uma intervenção nutricional sobre a ocorrência de desfechos negativos de gestações por FIV. O ensaio clínico contou com 170 gestantes com 12 a 16 semanas gestacionais, idade entre 19 e 45 anos e que passaram por FIV. As participantes não possuíam vícios de fumo, álcool ou drogas, apresentavam glicemia normal, IMC de 19-30kg/m² e não possuíam histórico familiar de diabetes ou de complicações em gestações anteriores.
Foram dadas orientações nutricionais focadas na prevenção de DMG e PE. As participantes foram divididas em dois grupos, controle e intervenção. Ambos os grupos passaram por todas as consultas de rotina durante a gestação e receberam orientações iniciais sobre os benefícios de seguir uma alimentação saudável durante a gestação. O grupo intervenção participou de seis sessões, com duração de 15 a 20 minutos, em que receberam orientações específicas sobre dieta e estilo de vida, sob supervisão de um nutricionista. Os temas abordados nas sessões grupo incluíram: mudanças fisiológicas da gestação, informações sobre DMG, apresentação dos princípios da alimentação durante a gestação, identificação de erros alimentares, estratégias de alimentação saudável para prevenção de DMG (incentivo a consumo de fibras, frutas e vegetais, consumo de água, restrição de gorduras e doces). Além de anamnese com informações de saúde e dados socioeconômicos, as participantes realizaram registo alimentar de três dias e o perfil de macro e micronutrientes da alimentação foi analisado.
Gestantes que realizaram FIV eram mais velhas (p=0,008), no entanto não houve diferença para nível educacional e econômico entre os dois grupos. Após as sessões de educação nutricional, o grupo intervenção apresentou redução da ingestão de glicose (p=0,006), frutose (p=0,015) e açúcares simples totais (p=0,040), enquanto a quantidade de lactose ingerida aumentou significativamente (p <0,05). Apesar do grupo intervenção apresentar aumento na ingestão de proteínas e fibras e redução no consumo de gorduras após as sessões, essas mudanças não foram significativas. Entre os micronutrientes, após o programa de educação, o grupo intervenção apresentou melhora na ingestão de magnésio e zinco e redução significativa no consumo de sódio (p <0,05). Observou-se aumento não significativo na ingestão de vitamina A, K e B9 e melhora significativa na ingestão de betacaroteno (p <0,05) e vitamina B3 (p <0,01), entre as gestantes do grupo intervenção.
A prevalência de DMG nos grupos controle e intervenção foi de 20% e 8,2%, respectivamente. Já a prevalência de PE foi de 37,6% no grupo controle e 27,1% no grupo intervenção. Apesar de fatores como IMC e idade terem influenciado em tais prevalências, resultados da regressão logística indicam que, embora não tenha sido observada diferença significativa no DMG entre os dois grupos, a chance de PE no grupo de intervenção foi 39,5% menor do que no grupo controle. Em ambos os grupos, não houve diferença significativa para tipo de parto, nascimento prematuro e outras complicações fetais.
Os autores concluem que a educação nutricional focada em mudanças dietéticas possui um papel positivo na redução de DMG, PE e outras complicações maternas, contribuindo para melhora da saúde de gestantes submetidas à FIV, além de favorecer o crescimento e desenvolvimento de seus bebês.
Referência:Charkamyani F, Khedmat L, Hosseinkhani A. Decreasing the main maternal and fetal complications in women undergoing in vitro fertilization (IVF) trained by nutrition and healthy eating practices during pregnancy, The Journal of Maternal-Fetal & Neonatal Medicine, 2021, 34:12, 1855-1867.