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Em 2019, a prevalência global de hipertensão arterial foi de 32% para mulheres e 34% para homens. Em termos práticos, essas porcentagens representam mais de 620 milhões de pacientes hipertensos ao redor do mundo.
Dentre os inúmeros resultados adversos associados à hipertensão, estão entre eles o maior risco de mortalidade, principalmente cardiovascular, cerebral e neurológica.
Para contornar essa realidade, a dieta pode ser um fator chave. Uma das estratégias propostas para diminuir a mortalidade em pacientes hipertensos é o consumo adequado de ômega-3, mas poucos estudos investigaram essa relação.
Sendo assim, uma nova pesquisa de base populacional investigou o efeito do ômega-3 dietético na mortalidade de adultos hipertensos, e os resultados foram animadores. Confira os detalhes a seguir!
Estudo NHANES: mais de 26 mil pacientes investigados
Recentemente, foi conduzido um estudo de coorte prospectivo, baseado em 10 ciclos do estudo NHANES (National Health and Nutrition Examination Survey), de 1999 a 2018.
O estudo NHANES é uma pesquisa de saúde representativa nacional, com ciclo de 2 anos, que avalia a saúde e o estado nutricional da população dos Estados Unidos. Ao total, os pesquisadores coletaram dados de 26.914 adultos hipertensos.
Os níveis dietéticos de ômega-3 foram obtidos a partir dos recordatórios alimentares de 24 horas. Além disso, os autores coletaram dados de óbitos por doenças cardiovasculares e por todas as causas, a partir do Índice Nacional de Óbitos dos EUA.
Por fim, as associações entre ômega-3 e mortalidade foram avaliadas através da construção dos modelos Multivariáveis de Riscos Proporcionais de Cox.
Ômega-3 reduz o risco de mortalidade por todas as causas
Após uma análise minuciosa, os estudiosos concluíram que o consumo dietético de ômega-3 foi associado a um menor risco de mortalidade cardiovascular e por todas as causas em pacientes hipertensos.
Ao investigarem o consumo de cada classe de ácidos graxos poliinsaturados, o consumo de ômega-3 total e ácido alfa-linolênico (ALA) à base de plantas tiveram o maior efeito protetor contra a mortalidade.
O risco de mortalidade para todas as causas atingiu o menor valor em uma ingestão de 9.37 g/dia de ômega-3 total, e 8.91 g/dia de ALA. Já para mortalidade cardiovascular, o efeito máximo se deu com o consumo de 10.80 g/dia de ômega-3 total, e 8.83 g/dia de ALA.
Em relação às outras classes de ômega-3, EPA e DPA (ácido eicosapentaenóico e ácido docosapentaenóico) também contribuíram de modo significativo para diminuir a mortalidade. O risco de óbito cardiovascular foi menor quando os participantes ingeriram até 0.20 e 0.09 g/dia de EPA e DPA, respectivamente.
Surpreendentemente, o consumo de EPA+DHA ou apenas DHA (ácido docosahexaenóico), um ômega-3 importante e bem estudado, não contribuiu significativamente para diminuir a mortalidade.
De fato, alguns estudos anteriores sugeriram que os benefícios cardiovasculares do óleo de peixe resultaram principalmente do EPA, mas não do DHA.
Ômega-3 e mortalidade: o que explica estes resultados?
Em resumo, o consumo de ômega-3 total, ALA, EPA e DPA diminuíram o risco de mortalidade por todas as causas, mas não o DHA.
Como sabemos, pacientes hipertensos são mais propensos a desenvolver alterações fisiopatológicas nos vasos sanguíneos, causando danos a órgãos-alvo no coração e no cérebro. Os mecanismos de dano incluem estresse oxidativo, inflamação, disfunção endotelial e alterações microvasculares.
Assim, os efeitos biológicos do ômega-3 podem derivar de dois mecanismos principais:
- São possíveis antioxidantes que combatem o estresse oxidativo, devido ao potencial redutor das suas ligações duplas carbono-carbono;
- São precursores de um grupo de mediadores lipídicos que promovem a resolução da inflamação e o retorno à homeostase.
Em outras palavras, o ômega-3 pode aliviar os danos aos órgãos-alvo causados pela hipertensão, reduzindo assim o risco de mortalidade.
Particularmente, o ALA diminuiria as mortes relacionadas à hipertensão através da modificação dos fatores de risco que contribuem para os danos vasculares. Por exemplo, seu consumo já esteve associado à diminuição das concentrações de ácidos graxos livres e TNF-α no sangue.
Por fim, os autores especulam que a diferença dos efeitos entre EPA e DHA pode surgir de sua distribuição diferente no corpo, e dos efeitos diferenciais na estrutura da membrana celular e na oxidação de lipoproteínas.
O que podemos concluir?
A pesquisa indicou que adultos hipertensos com maior consumo de ômega-3 total, ALA, EPA e DPA têm maiores chances de sobreviver à mortalidade cardiovascular e por todas as causas.
Estes resultados apontam a necessidade de nutricionistas e profissionais de saúde em estarem atentos ao consumo dietético de ômega-3 de seus pacientes hipertensos. O incentivo a esta estratégia nutricional poderia aumentar a qualidade e a expectativa de vida deste grupo populacional.
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Referência:
Chen, H., Leng, X., Liu, S., Zeng, Z., Huang, F., Huang, R., … & Xu, Y. (2023). Association between dietary intake of omega-3 polyunsaturated fatty acids and all-cause and cardiovascular mortality among hypertensive adults: Results from NHANES 1999–2018. Clinical Nutrition, 42(12), 2434-2442.