O Índice de massa corporal (IMC) elevado associa-se a melhores desfechos em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida.
Com o objetivo de investigar o impacto de tolerância ao exercício e capacidade cardiorrespiratória no paradoxo da obesidade, Moreira RI e colaboradores acompanharam pacientes ambulatoriais com insuficiência cardíaca sintomática e fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE) ≤ 40%, submetidos à avaliação abrangente de linha de base incluindo parâmetros clínicos, laboratoriais, eletrocardiográficos, ecocardiográficos e de exercício cardiopulmonar.
A população do estudo foi dividida de acordo com o IMC (< 25, 25 – 29,9 e ≥ 30 kg/m2). Todos os pacientes foram acompanhados durante 60 meses. O desfecho composto foi definido como morte cardíaca, transplante cardíaco urgente ou necessidade de suporte circulatório mecânico.
Dos 282 pacientes incluídos (75% masculino, 54 ± 12 anos, IMC 27 ± 4 kg/m2, FEVE 27% ± 7%), o desfecho composto ocorreu em 24,4% durante o acompanhamento. Os pacientes com IMC elevado eram mais velhos e apresentavam FEVE e níveis séricos de sódio mais elevados, bem como menor inclinação de eficiência ventilatória (VE/VCO2). VE/VCO2 e consumo de oxigênio de pico (VO2 p) eram fortes preditores prognósticos (p < 0,001).
Na análise univariada de regressão de Cox, o IMC elevado foi associado a desfechos melhores (razão de risco 0,940, intervalo de confiança 0,886 – 0,998, p 0,042). Porém, após ajustar para inclinação VE/VCO2 ou VO2 p, o papel protetor do IMC sumiu.
O benefício de sobrevida do IMC não foi evidente quando os pacientes foram agrupados de acordo com a classe de aptidão cardiorrespiratória (VE/VCO2, valor de corte de 35, e VO2 p, valor de corte de 14 mL/kg/min).
Estes resultados sugerem que a aptidão cardiorrespiratória supera a relação entre o IMC e a sobrevida em pacientes com insuficiência cardíaca.
Por Renata Gonçalves
Referência: Moreira RI et al. O Impacto da Aptidão Cardiorrespiratória no Paradoxo da Obesidade em Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida. Arq Bras Cardiol. 2020; 115(4):639-645.