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No ambiente da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a interrupção da nutrição enteral (INE) é recorrente, seja quais foram os motivos (como procedimentos diagnósticos e terapêuticos).
Entretanto, este fator é muitas vezes associado à desnutrição e resultados adversos. A subalimentação aumenta o tempo de internação hospitalar, favorece maiores complicações, como infecções e falência de órgãos, e também uma maior mortalidade.
Em pacientes críticos, o desequilíbrio entre síntese e degradação protéica resulta em um estado catabólico, com perda muscular acentuada de até 1 kg por dia durante os primeiros dez dias de internação na UTI. Para frear esse catabolismo, o alcance de metas nutricionais e fornecimento de macro e micronutrientes é de suma importância.
Em um novo estudo realizado na Grécia, os pesquisadores buscaram investigar as causas, a duração e a frequência dos episódios de INE. Vamos ver o que eles descobriram?
Metodologia: 81 pacientes participaram da pesquisa
Neste estudo prospectivo e observacional, o principal objetivo foi determinar as causas, duração e frequência dos episódios de INE, e avaliar o impacto nos déficits de macro e micronutrientes (principalmente antioxidantes).
Como objetivos secundários, a ingestão de nutrientes em pacientes de UTI recebendo nutrição enteral (NE) também foi avaliada. Por fim, examinou-se a possibilidade de suficiência de NE para atingir os requisitos metabólicos dos doentes críticos sem suplementação.
Ao total, foram incluídos 81 pacientes, presentes na UTI por mais de 48 h e com incapacidade de se alimentar por via oral (principalmente pacientes em ventilação mecânica ou sob sedação).
Os seguintes pacientes foram excluídos do estudo:
- Menores de idade (< 18 anos);
- Em ingestão parcial ou exclusiva de alimentos por via oral;
- Em uso de nutrição parenteral total ou periférica;
- Incapazes de se alimentar (com choque séptico grave; hemodinamicamente instável);
- Aqueles que receberam alta ou morreram entre o 1º e o 7º dia de internação na UTI.
A INE prejudicou o alcance das metas nutricionais
As INEs foram observadas em todos os pacientes, com uma duração média de 5,2 horas. A causa mais comum foi devido a procedimentos diagnósticos (100% da amostra), sendo a mais prevalente o monitoramento do volume residual gástrico, com interrupção da NE por duração média de 3h. Os pacientes ventilados mecanicamente tiveram maior duração de INE devido a procedimentos diagnósticos (p < 0,05).
Para cada hora perdida de alimentação, foram também perdidos (p < 0,001):
- 60.3 kcal;
- 7.5 g de carboidratos;
- 2,75 g de proteína;
- 2,33 g de gordura.
Em todos os pacientes, a ingestão diária de proteína (ingestão diária mediana (IDM) = 0,43 g/kg), arginina (IDM = 0,37 g) e vitamina D (IDM = 7,76 μg) foram menores em comparação com DRIs, sendo que a ingestão de proteína mal atingiu 0,43 ± 0,3 g/kg.
O que podemos concluir?
Com base nos resultados encontrados, os autores concluem que o consumo energético-protéico reduzido está associado a desfechos negativos.
Em relação à energia, duas meta-análises anteriores descobriram que uma ingestão energética pode aumentar as complicações em pacientes de UTI que não estão desnutridos. A alimentação hipocalórica está associada a melhores resultados clínicos.
Entretanto, alguns estudos argumentam que a menor quantidade de alimentação associada aos INEs não beneficiará pacientes gravemente enfermos (mesmo aqueles com baixo risco nutricional).
Por fim, uma abordagem terapêutica holística deve incluir avaliação nutricional e tratamento para diminuir os distúrbios metabólicos e prevenir resultados ruins.
Referência:
Kasti AN, Theodorakopoulou M, Katsas K, Synodinou KD, Nikolaki MD, Zouridaki AE, Fotiou S, Kapetani A, Armaganidis A. Factors Associated with Interruptions of Enteral Nutrition and the Impact on Macro- and Micronutrient Deficits in ICU Patients. Nutrients. 2023 Feb 11;15(4):917. doi: 10.3390/nu15040917. PMID: 36839275; PMCID: PMC9959226.