As úlceras do pé diabético (UPDs) são classificadas como feridas crônicas e são uma das complicações mais comuns do diabetes, uma vez que cerca de um quarto das pessoas com a doença desenvolverá uma úlcera no pé e até 16% dessas poderão ter seu pé amputado, caso as úlceras não sejam tratadas.
Em feridas crônicas, o manejo da inflamação é um passo fundamental no tratamento, e no diabetes observa-se uma capacidade reduzida em combater a inflamação e problemas na vascularização do paciente que limitam a cicatrização de feridas e inibem a função de neutrófilos e macrófagos, o que aumenta o risco de infecção.
A nutrição, por sua vez, além de desempenhar um papel importante no controle do diabetes, ainda é fundamental para o gerenciamento e controle da inflamação. Vários componentes da dieta, incluindo vitaminas e minerais antioxidantes, têm o potencial de reduzir a inflamação e podem contribuir para a cicatrização de feridas crônicas.
Diante disso, este estudo teve como objetivo avaliar os efeitos da educação e suplementação nutricional sobre biomarcadores inflamatórios em pacientes com UPDs.
Foram incluídos no estudo mulheres não-grávidas e homens com idades entre 30 e 70 anos com diabetes tipo 1 ou 2. Estes foram, então, aleatoriamente designados para um grupo de tratamento (n = 15) ou controle (n= 14).
Ambos os grupos receberam atendimento padrão para tratamento de feridas, no entanto, o grupo de tratamento também recebeu suplementação nutricional (formulação específica para diabetes, contendo 250 kcal, 14g de proteína e vitaminas e minerais, que deveria ser usada 2 vezes ao dia) e orientação para melhorar sua ingestão alimentar, aumentando o consumo de fontes de proteína com baixo teor de gordura/alta biodisponibilidade, vegetais e carboidratos ricos em fibras, além de diminuir a ingestão de carboidratos refinados e simples (realizada presencialmente antes do estudo e reforçada a cada visita por 12 semanas ou até a cicatrização da ferida).
As concentrações plasmáticas de biomarcadores inflamatórios como a proteína C reativa (PCR), interleucina 6 (IL6), interleucina 10 (IL10) e tristetraprolina (TTP), foram avaliadas no início e a cada quatro semanas, até que o fechamento completo da ferida ocorresse ou até a 12ª semana.
A concentração plasmática média de IL6 diminuiu significativamente no grupo de tratamento (p= 0,001), enquanto que no grupo controle, a concentração média de IL6 foi 15 vezes maior que sua concentração no grupo de tratamento ao final do estudo.
A interação entre tempo e grupo não foi estatisticamente significativa para as concentrações plasmáticas médias de PCR, IL10 e TTP durante as 12 semanas do estudo, embora a concentração plasmática média de TTP no grupo de tratamento passou de 361 pg/mL na linha de base para 1.243 pg/mL no final do estudo, enquanto que no grupo controle, a concentração plasmática média de TTP aumentou de 355 pg/mL para 479 pg/mL.
A TTP é uma proteína de ligação ao RNA que, além de reduzir a sinalização do NF-κB, reduz a inflamação sistêmica através da subexpressão de mediadores inflamatórios, incluindo IL6, TNF alfa e IL18.
Dessa forma, os autores sugerem que o aumento numérico observado em TTP, juntamente com a diminuição significativa nas concentrações de IL6 no grupo de tratamento, pode sugerir efeitos positivos da intervenção nutricional no controle da inflamação em pacientes com UPDs.
Mais ensaios clínicos com uma população maior e de maior duração são necessários para confirmar esses resultados.
Referência
BASIRI, Raedeh et al. Improving Dietary Intake of Essential Nutrients Can Ameliorate Inflammation in Patients with Diabetic Foot Ulcers. Nutrients, [S.L.], v. 14, n. 12, p. 2393, 9 jun. 2022. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/nu14122393.