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O consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) aumentou dramaticamente nas últimas décadas. Os AUPs são definidos pela classificação NOVA como formulações industriais feitas com substâncias extraídas de alimentos ou sintetizadas em laboratório.
Além de altos níveis de açúcar, sódio e gordura, esses produtos contam com a presença de aditivos químicos e muitas etapas de processamento industrial.
Nesse sentido, a associação entre alimentos ultraprocessados e aparecimento de doenças é um tópico quente no mundo da nutrição. Entretanto, pouco se estudou sobre sua influência nas doenças renais, comuns na população idosa.
Para mudar este cenário, uma nova pesquisa visou entender a relação entre o consumo de ultraprocessados e a função renal. Confira detalhes a seguir.
Cistatina C para avaliar a função renal
Para investigar a relação entre saúde dos rins e alimentos ultraprocessados, pesquisadores utilizaram o banco de dados do ensaio “PREvención con DIeta MEDiterránea (PREDIMED)-Plus”.
Um total de 1.851 participantes foram incluídos na análise transversal, e 1.700 na análise longitudinal, com idade média de 65 anos. Além disso, todos eles possuíam síndrome metabólica e sobrepeso/obesidade.
A fim de avaliar o consumo de alimentos ultraprocessados, os pesquisadores se basearam em dados de um Questionário de Frequência Alimentar, aplicado no início do estudo e após 1 ano de acompanhamento.
Para cada participante, calculou-se a proporção de AUP na dieta total. Ademais, os indivíduos foram categorizados em tercis de consumo de AUP.
A avaliação da taxa de filtração glomerular (TFG) baseou-se nos níveis de cistatina C (CysC), um biomarcador da função renal mais efetivo do que a creatinina sérica. A análise ocorreu no início do estudo, após 1 ano e após 3 anos.
Maior consumo de AUP, menor função renal
Participantes com um alto consumo de AUP, no tercil superior, apresentaram níveis mais elevados de CysC do que aqueles no tercil mais baixo.
Sendo assim, indivíduos com o maior consumo de alimentos ultraprocessados apresentaram menor TFG (−3,39 ml/min) e maior chance de diminuição da função renal. Mais especificamente, cada aumento de 10% na quantidade de AUP se associou a uma diminuição na TFG de -1,35 ml/min.
No tercil mais alto de consumo de AUP, após 1 ano de acompanhamento, a diminuição na TFG persistiu (−1,43 ml/min). Após 3 anos, ela foi ainda mais drástica (-2,12 ml/min).
Tais achados foram consistentes com pesquisas anteriores.
Por que alimentos ultraprocessados pioram a função renal?
Segundos os autores, diversos motivos podem explicar a associação entre alimentos ultraprocessados e piora da função renal, incluindo:
- Perfil nutricional pobre: baixo teor de fibras, alto teor de açúcares simples e sódio;
- Adição de aditivos químicos, tornando-os uma fonte de fosfato inorgânico (associado ao declínio da TFG e à doença renal crônica);
- Compostos de embalagens plásticas (como ftalatos ou bisfenóis), relacionados à DRC;
- Presença de adoçantes artificiais não calóricos ou contaminantes neoformados.
Em conjunto, tais componentes podem ter um efeito indireto na função renal, seja na promoção da inflamação, na permeabilidade da barreira intestinal, ou no início/progressão de comorbidades.
Conclusão
Resumidamente, o maior consumo de alimentos ultraprocessados associou-se à pior função renal em idosos com sobrepeso/obesidade e síndrome metabólica, tanto no início do estudo quanto no acompanhamento após 3 anos.
Tais resultados podem fornecer novos insights para futuras estratégias de prevenção à disfunção renal, evidenciando os malefícios de AUP para a saúde dos rins. Mais estudos de longo prazo e com diferentes populações devem apoiar estes achados.
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Referência:
Valle-Hita, C., Díaz-López, A., Becerra-Tomás, N., Toledo, E., Cornejo-Pareja, I., Abete, I., … & Babio, N. (2023). Associations between ultra-processed food consumption and kidney function in an older adult population with metabolic syndrome. Clinical Nutrition, 42(12), 2302-2310.