O câncer é uma doença que acomete cerca de 60% dos indivíduos acima de 65 anos. O estado nutricional é de grande importância pois a desnutrição é comumente vista em idosos com câncer, além de ser um fator de risco aumentado para o insucesso do tratamento anticancerígeno, morbidade e mortalidade.
Em recente estudo, pesquisadores americanos avaliaram a associação entre fatores nutricionais (índice de massa corporal (IMC), nível de albumina e perda de peso não intencional nos últimos 6 meses) com fatores preditores de risco de toxicidade em idosos com tumores sólidos.
A análise aconteceu de forma secundária de um estudo prospectivo e multicêntrico. Foram incluídos 750 pacientes com idade mediana de 72 anos (variação de 65 a 94 anos) e principalmente com doença em estágio IV. Inicialmente os pacientes passaram por uma avaliação geriátrica e foram avaliados o IMC, nível de albumina e dados de perda de peso nos últimos 6 meses. A partir da avaliação foi desenvolvido e validado um método subconjunto, que identificou a partir da combinação de 11 variáveis que melhor predizia o risco de toxicidade quimioterápica. A pontuação foi de 0 a 19 e pode ser usada para definir risco baixo (escore 0-5), intermediário (escore 6-9) ou alto (pontuação, 10-19) para toxicidade de quimioterapia grau 3.
Os pacientes apresentaram no início do tratamento IMC médio de 26 kg/m2 (intervalo de 15,1-52,1 kg/m2) e valores de albumina valores de 3,9 mg/dl (1,0-5,0 mg/dL). Cinquenta porcento dos pacientes relataram perda de peso não intencional, com 17,6% relatando >10% de perda de peso. A toxicidade quimioterápica grau 3+ ocorreu em aproximadamente metade dos pacientes (54,7%; n = 410).
A análise estatística univariada mostrou que, em comparação com pacientes com perda de peso ≤5% nos 6 meses antes do tratamento, aqueles com perda de peso > 10% apresentaram um risco 52% maior de toxicidade de quimioterapia grau 3+. Os pacientes que apresentaram um IMC mais alto no início do tratamento foram associados a um menor risco de toxicidade grau 3+. A análise multivariável mostrou uma tendência para uma associação entre um IMC ≥30 kg/m 2 e uma diminuição do risco de toxicidade quimioterápica grau 3+ (AOR, 0,65; P = 0,06), enquanto um nível baixo de albumina (≤3,6 mg/dL) foi associado a um maior risco de toxicidade quimioterápica grau 3+ (AOR, 1,50; P = 0,03). Em análise do efeito conjunto do IMC e da albumina foi demonstrado um menor risco de toxicidade quimioterápica grau 3+ entre pacientes com IMC alto (≥30 kg/m 2) e níveis normais de albumina (p = 0,008).
Os autores concluíram que os idosos em tratamento oncológico que apresentaram IMC mais altos e níveis normais de albumina estavam associados a um menor risco de toxicidade quimioterápica grau 3+.
Por Ana Carolina Costa Vicedomini