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A lesão renal aguda (LRA) é uma complicação comum em até 60% dos pacientes críticos, sendo a sepse a causa mais comum. Além de maior mortalidade, pacientes com sepse e LRA tem um risco aumentado de piora da função renal, aumentando a gravidade da doença.
Atualmente, a classificação da lesão renal aguda é estabelecida pelos critérios do Kidney Disease Improving Global Outcomes (KDIGO), que considera as alterações máximas na creatinina sérica. Contudo, já é sabido que a LRA é uma síndrome heterogênea e complexa, com alterações longitudinais deste marcador.
Sendo assim, uma nova pesquisa científica investigou a validade da classificação da LRA com base na trajetória da creatinina durante o curso da doença, identificando pacientes em risco de complicações de maneira mais assertiva.
Será que esta estratégia funcionou? Confira a seguir.
Metodologia do estudo
A pesquisa em questão utilizou dados de dois bancos de dados independentes: Medical Information Mart for Intensive Care IV – MIMIC-IV (com 4.197 pacientes inclusos) e eICU Collaborative Research Database (com 3.963 pacientes inclusos)
Todos os pacientes eram adultos com sepse que desenvolveram LRA conforme os critérios originais do KDIGO (aumento de 0,3 mg/dL na creatinina em 48 horas ou 1,5 vezes o valor de referência em 7 dias).
Os autores focaram em pacientes com sepse que desenvolveram lesão renal aguda (LRA) em 48 horas após a admissão na UTI, utilizando o banco de dados MIMIC-IV para desenvolver modelos de predição, e o eICU como coorte de validação externa.
O objetivo do estudo foi desenvolver uma classificação de lesão renal aguda com base nas trajetórias de creatinina nas primeiras 96 horas (4 dias) de admissão na UTI.
O desfecho primário foi o desenvolvimento de doença renal aguda (DRA), definido como o cumprimento contínuo dos critérios de LRA em pacientes sobreviventes além de 7 dias após o desenvolvimento da doença.
Já os desfechos secundários foram compostos de doença renal aguda (DRA) ou mortalidade hospitalar por todas as causas até o dia 7, ou até a alta hospitalar.
8 classificações de LRA com base na trajetória da creatinina
Com base no banco de dados MIMIC-IV, os autores identificaram oito classes de trajetórias de creatinina, demonstrando diferenças significativas em termos de estágio, taxa, tempo de evolução e recuperação da LRA. Foram elas:
- Classe 1 – LRA transitória
- Classe 2 – LRA transitória menor
- Classe 3 – LRA leve inicial com persistência
- Classe 4 – LRA leve inicial seguida de recuperação
- Classe 5 – LRA leve tardia com persistência
- Classe 6 – LRA leve tardia com persistência e piora
- Classe 7 – LRA moderada com persistência
- Classe 8 – LRA grave com melhora leve, mas persistência
A figura abaixo representa as oito classes de trajetória de creatinina identificadas.
As classes mais comuns foram, em ordem decrescente, as classes 1, 5 e 3. Houve diferenças significativas entre as classes em fatores como idade, hemoglobina, contagem de leucócitos, níveis de lactato e pontuação SOFA.
Na coorte de desenvolvimento, 16% dos pacientes desenvolveram doença renal aguda. As trajetórias de creatinina foram associadas a diferentes riscos de desenvolvimento de DRA, com a classe 8 apresentando o maior risco.
Além disso, cerca de 21% dos pacientes desenvolveram DRA ou morreram dentro de 7 dias após o início da LRA. O maior risco foi observado na classe 6, seguido pelas classes 8 e 7.
A validação pela coorte eICU identificou as mesmas 8 trajetórias de creatinina. E, similar ao grupo de desenvolvimento, as classes apresentaram riscos diferentes para o desenvolvimento de DRA e mortalidade hospitalar, tanto nas análises ajustadas quanto nas não ajustadas.
Conclusão
Em resumo, a classificação da lesão renal aguda com base nas trajetórias iniciais de creatinina em pacientes críticos com sepse demonstrou ser uma ferramenta eficaz para prever o risco de doença renal aguda e mortalidade.
Além de possibilitar a identificação de respostas diferenciais a intervenções terapêuticas, essa estratificação contribui para uma avaliação mais detalhada da evolução da doença e das complicações associadas.
Além disso, auxilia na alocação oportuna de recursos adequados, como o encaminhamento para acompanhamento especializado em nefrologia após a alta hospitalar, garantindo um cuidado mais eficaz e direcionado.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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Referência:
Takkavatakarn, K., Oh, W., Chan, L. et al. Machine learning derived serum creatinine trajectories in acute kidney injury in critically ill patients with sepsis. Crit Care 28, 156 (2024). https://doi.org/10.1186/s13054-024-04935-x